“Não sobreviveu nada num raio de muitos quilómetros”, afirmou à agência Lusa Ana Paula Sançana, diretora executiva da Lousãmel, a entidade que gere a Denominação de Origem Protegida (DOP) da Serra da Lousã e que reúne 450 associados de diferentes concelhos.
Não sendo possível fazer de momento um levantamento completo da destruição causada pelo fogo nos apiários da zona, confirmou para já que arderam 300 colmeias, propriedade de “apenas três ou quatro apicultores”.
Estas unidades apícolas pertencem maioritariamente ao presidente e ao vice-presidente da Lousãmel, António Carvalho e João Marta Soares, respetivamente, cujos apiários se localizavam, designadamente, em Serpins, concelho da Lousã, e no município vizinho de Vila Nova de Poiares.
“Este nível de destruição não compromete apenas a DOP Serra da Lousã. Fica em causa o futuro da própria apicultura” na região demarcada, disse Ana Paula Sançana.
Os incêndios registados no domingo, na Lousã e em concelhos contíguos, que tiveram hoje vários reacendimentos, “destruíram os ecossistemas” e mataram milhões de abelhas e outros insetos polinizadores, além de que “milhares de outros animais sofreram com isto”, sublinhou.
A diretora executiva da Lousãmel lamentou a morte de dois irmãos, associados da cooperativa, na aldeia de Vale Maior, em Penacova, numa das frentes de fogo que passou da Lousã para Vila Nova de Poiares e depois para aquele concelho.
“Tal como o pai deles, eram ambos nossos associados e costumavam fazer as feiras do mel connosco”, adiantou.
Na sequência dos incêndios que deflagraram em Pedrógão Grande e Góis, em 17 de junho, que causaram pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos, a Lousãmel tinha calculado que “milhares de colmeias” foram então queimadas.
O fogo consumiu ainda o pasto das abelhas em vários concelhos, o que fará diminuir a produção de mel certificado da Serra da Lousã nos próximos anos, disseram na altura os dirigentes da cooperativa à Lusa.
Dos 10 municípios que integram a região do mel certificado, de cor escura e sobretudo à base de urzes diversas, “apenas Lousã e Miranda do Corvo” escaparam em junho ao grande incêndio de Pedrógão Grande, salientou hoje Ana Paula Sançana, ao sustentar a convicção de que a apicultura nos municípios ligados à Serra da Lousã “fica comprometida” para os próximos anos.
A Lousãmel assume a gestão da DOP Serra da Lousã, que abrange 10 municípios: Arganil, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Lousã, Miranda do Corvo, Pampilhosa da Serra, Pedrógão Grande, Penela e Vila Nova de Poiares, nos distritos de Coimbra e Leiria.
As centenas de incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram pelo menos 31 mortos e dezenas de feridos, além de terem obrigado a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas.
O primeiro-ministro, António Costa, anunciou que o Governo assinou um despacho de calamidade pública, abrangendo todos os distritos a norte do Tejo, para assegurar a mobilização de mais meios, principalmente a disponibilidade dos bombeiros no combate aos incêndios.
Portugal acionou o Mecanismo Europeu de Proteção Civil e o protocolo com Marrocos, relativos à utilização de meios aéreos.
Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos este ano, depois de Pedrógão Grande, no verão, um fogo que alastrou a outros municípios e que provocou 64 vítimas mortais e mais de 200 feridos.
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