"Já se começa a chegar à conclusão que mostrar os factos e os números não funciona para algumas pessoas. Cada vez mais, temos de recorrer a histórias, à criação de personagens para tentar criar essas dimensões que são futuras, mas que nos vão tocar a todos, para deixar de ser essa ideia abstrata", disse à agência Lusa Diana Marques, ilustradora científica que colabora com o Museu de História Natural do Instituto Smithsonian, nos Estados Unidos.
Para a ilustradora, encontrar uma forma de comunicar a ciência conseguindo superar a abstração de alguns conceitos "é o desafio, neste momento".
"O problema de temas como as alterações climáticas ou até as vacinas é a abstração. ‘Não estou doente, porque é que preciso de uma injeção? O tempo está na mesma, porque é que tenho de mudar os meus hábitos de vida?' São conceitos muito difíceis de passar", nota Diana Marques, que participou na segunda-feira no ciclo de conversas "Ciência às Seis", no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra.
Na ótica da ilustradora que desenhou uma coleção de selos para as Nações Unidas, algum conhecimento "é muito complicado de comunicar", sendo necessário começar por se fazer uma pergunta: "Com quem é que estou a falar?".
Depois, sublinha, é preciso "procurar a simplificação" dos conceitos, seja através de uma metáfora, de uma analogia ou de uma comparação.
"Há tantos conceitos abstratos que é difícil puxar para a realidade e isso às vezes torna-se tão fácil, como comparar com o número de horas por dia ou com a dimensão de um campo de futebol", salienta.
O meio científico hoje está mais sensibilizado para a necessidade de saber comunicar e fazer passar o conhecimento, nota, mas acredita que deveria haver uma maior procura pelos especialistas da comunicação de ciência.
Trabalhando com museus, Diana Marques constata que houve uma grande mudança na atitude destas instituições na forma como se relacionam com o público.
"A perspetiva que havia de que os cientistas recorriam às coleções para educar o público - essa perspetiva de topo para baixo - está desatualizada. Hoje, procura-se um diálogo" com os visitantes, frisa, considerando que os museus procuram cada vez mais formas de "chegar às pessoas, de as envolver e de as cativar".
Diana Marques, de 39 anos, descobriu a ilustração científica enquanto estudava Biologia.
Em 2003, estudou nos Estados Unidos e, desde então, tem trabalhado com várias instituições americanas, em regime de ‘freelancer'.
O seu projeto de doutoramento consistiu na criação de uma experiência com tecnologia de realidade aumentada no Smithsonian.
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