No início do julgamento, no Tribunal de Braga, o arguido, de 49 anos, assumiu a autoria de nove disparos de caçadeira, mas sublinhou que escolheu “os cartuchos mais fraquinhos” de entre os cerca de 350 que tinha em casa e que apontou para o chão/portão e não para os vizinhos.

“Tinha em casa zagalotes e balas, mas carreguei a arma com os cartuchos mais fraquinhos. Aquilo não mata, eu nunca quis matar ninguém, apenas queria dar-lhes uma lição”, referiu.

Disse que já não falava há uns seis anos com os vizinhos, irmãos, que estes “faziam pouco” dele e que uns dias antes dos disparos tinham tido novos desentendimentos, por causa do retrovisor de um carro.

O arguido acrescentou que, no dia dos factos, 26 de outubro, os dois vizinhos e outros dois homens o esperaram à porta de casa, na rua Sá de Miranda, na cidade de Braga, tendo então sido agredido a murro e pontapé.

“Fugi e perdi o juízo”, contou.

Foi a casa, pegou na caçadeira do pai, carregou-a e efetuou “nove disparos”, mas, sublinhou, nunca apontando para as vítimas.

“Sou caçador desde pequeno, conseguia acertar nos fios da eletricidade ou nas asas das borboletas. Se os quisesse matar, matava-os. Mas essa nunca foi a minha intenção”, reiterou, num depoimento sempre muito emotivo e efusivo.

Um dos vizinhos foi atingido e ficou ferido numa perna, circunstância que o arguido atribuiu a um eventual “ricochete”.

Disse ainda que nunca imaginara que os cartuchos conseguissem furar o portão, como acabou por acontecer.

“Os cartuchos não prestavam para nada”, afirmou.

Após os primeiros três disparos, o arguido foi a casa duas vezes recarregar a arma, tendo sido então que as vítimas se refugiaram dentro de uma garagem.

Os disparos provocaram danos no portão e numa viatura que estava estacionada dentro da garagem.

O arguido, que está em prisão preventiva, responde por dois crimes de homicídio, na forma tentada, e um crime de dano.