O português, recandidato ao cargo de secretário-geral da ONU, foi o único inquirido de uma sessão de perguntas que durou várias horas na Assembleia Geral da ONU, na sede da organização, em Nova Iorque.
A sessão, iniciada às 10:00 na hora local (15:00 em Lisboa) foi presidida pelo presidente da Assembleia Geral, Volkan Bozkir, e consistiu em diversas rondas de perguntas pelos representantes permanentes dos 193 Estados-membros, que na grande maioria expressaram apoio ao único candidato a secretário-geral, e por membros da sociedade civil, com perguntas enviadas previamente.
Guterres considerou que a Organização Mundial de Saúde (OMS) precisa de uma autoridade mais forte e aceite em todo o mundo, porque no panorama atual a OMS “só tem o poder de defender, prescrever e recomendar” práticas globais, mas “não tem uma capacidade muito forte para fazer as coisas acontecer”.
O resultado, na visão do secretário-geral da ONU sobre a pandemia, “foi a falta de coordenação a nível global” e “uma situação caótica na distribuição de vacinas”, com um trabalho que está em risco de regredir se a vacinação não for urgentemente acelerada em todo o mundo.
“Ou vacinamos toda a gente a tempo ou arriscamos perder todo o trabalho que já fizemos”, alertou Guterres, associando o vírus à teoria de evolução de Darwin, dizendo que as numerosas novas variantes do vírus se tornam mais fortes e podem derrotar as vacinas já aprovadas.
Para prevenir que futuras pandemias tenham um impacto tão agravado, António Guterres pediu aos Estados-membros para “refletir de forma séria” para identificar onde aplicar melhor governação, criar um tratado sobre pandemias, com normas e reforçar a partilha de informações.
A OMS precisa de atuar com autoridade, “não só com persuasão, como é o presente sistema, com todos os seus problemas”, garantiu o responsável.
Na ação climática, uma das bandeiras do seu primeiro mandato como secretário-geral da ONU, António Guterres destacou que o próximo mandato, de 2022 a 2026, terá de ser focado em “três crises juntas”: degradação do clima, biodiversidade e poluição, passando também pela manutenção dos oceanos, assim com “ênfase mais abrangente” da Natureza e meio ambiente.
Entre os temas mais mencionados nas dezenas de perguntas dirigidas ao candidato, para além da recuperação social e económica depois da pandemia de covid-19, abordou-se também a igualdade de género, prevenção de conflitos, as reformas na ONU e o futuro do multilateralismo.
A grande maioria dos países que dirigiram perguntas ao candidato para secretário-geral da ONU no período de 2022 a 2026 incluiu rasgados elogios ao primeiro mandato de António Guterres.
O representante permanente da Nigéria junto da ONU e ex-presidente da Assembleia Geral entre 2019 e 2020, Tijjani Muhammad-Bande, destacou no mandato de Guterres a integridade, procura de soluções por via do diálogo e entendimento político, capacidades e fidelidade à Carta das Nações Unidas.
“Ele desempenhou o trabalho de forma brilhante nos últimos quatro anos e meio”, disse o antigo presidente da Assembleia Geral da ONU.
Em nome do Governo da Guiné Equatorial, o representante permanente Anatolio Ndong Mba demonstrou “apoio total e incondicional” para a reeleição de António Guterres que foi ao encontro dos desafios no cargo de secretário-geral e “além das expectativas e confiança colocada nele”.
Segundo o representante permanente da Bélgica junto da ONU, Philippe Kridelka, Guterres “liderou habilmente as Nações Unidas nestes tempos incertos” e o próximo secretário-geral da ONU tem de ser também, à semelhança de Guterres, um “campeão do multilateralismo”.
Também com elogios à atuação de António Guterres desde que foi eleito em 2016, o representante permanente do Egito acrescentou: “Obrigado ao Governo de Portugal por tomar esta decisão sábia”.
Guterres é o único candidato formal ao mandato de 2022 a 2026, por ter a nomeação de um país, Portugal, e ter a validação da Assembleia Geral e Conselho de Segurança da ONU.
Outras sete pessoas avançaram com pré-candidaturas individuais para cargo de secretário-geral, mas as propostas não se materializaram em candidaturas aceites pelo sistema, por falta de apoio formal de um Governo ou dos órgãos da ONU.
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