Domingos Chambel, porta-voz do Movimento Social de Apoio e Reconhecimento ao Cónego José da Graça (MOSAR-CJG), disse a agência Lusa que a população que se juntou na vigília realizada esta tarde representa um "manifesto" da comunidade "que demonstra que o sr. bispo está a proceder mal", tendo apelado a que se encontre ainda uma "solução para uma transição pacífica" e para que o padre José da Graça, de 76 anos, 34 dos quais dedicados às paróquias de São João e de São Vicente, "possa sair pela porta grande".
Segundo defendeu Chambel, o bispo "deveria congregar todos os interesses e criar harmonia entre a comunidade, e não é o que sucede", tendo feito notar que o responsável pela diocese de Portalegre - Castelo Branco "está a tempo de falar connosco e com o cónego", para que "as partes se juntem e encontrem uma solução que, não sendo perfeita, não enxovalhe, mas dignifique o padre" José da Graça.
"Estávamos preparados para uma transição pacífica, assim como o cónego José da Graça, que já tem uma idade avançada e se poderia reformar dentro de um ano ou dois, e isto poderia ter sido tudo pacífico", notou, relativamente a um diferendo que está neste momento para apreciação na Congregação do Clero, em Roma.
Dirigindo-se aos presentes, Domingos Chambel disse que a comunidade "não deve obediência ao bispo, nem deve bajular ou andar curvada. Queremos que o padre continue os seus ofícios e quando sair de pároco tem de sair pela porta grande", reiterou, perante os aplausos generalizados.
Antonino Dias, tem rejeitado as pretensões destes cidadãos de Abrantes, que constituíram o MOSAR-CJG, e que tem apelado à reintegração do padre José da Graça, e nomeou o padre António Castanheira, de Alcains, para o substituir, tendo hoje tomado posse na Igreja de São Vicente enquanto Administrador Paroquial "sede plena" das paróquias que pertenciam ao antigo padre.
O processo de suspensão do padre José da Graça decorre da sua condenação, em 12 de junho, a cinco anos de prisão, com pena suspensa por igual período, pelos crimes de burla qualificada, burla tributária e falsificação de documentos, num esquema que terá lesado o Estado em cerca de 200 mil euros, através do Centro Social Interparoquial de Abrantes, instituição da qual era presidente.
O porta-voz do grupo de cidadãos disse ter colocado junto da diocese a "possibilidade" de o padre Castanheira "vir [para Abrantes] e trabalhar em conjunto com o cónego José da Graça, posição que o Bispo rejeitou de imediato", dando ainda conta de que, "esgotadas que foram as vias negociais (...) ao MOSAR-CJG não restava outra via senão acompanhar e apoiar, como sempre, a decisão do reverendo cónego José da Graça nas petições apresentadas e no recurso interposto para a Congregação do Clero, em Roma".
Nestas circunstâncias, e enquanto se aguarda a resposta ao recurso instruído para a Congregação do Clero, o cónego José da Graça não perde o título de pároco nem o bispo pode nomear outro, mas deixa de ter qualquer responsabilidade nas paróquias em causa.
Neste contexto, o bispo diocesano anunciou a 15 de outubro, em comunicado, a nomeação de um Administrador Paroquial "sede plena" para as Paróquias de São Vicente e de São João, do Concelho e Arciprestado de Abrantes, precisamente o padre António Castanheira, ficando com os mesmos direitos e deveres de Pároco, até à resolução final do recurso hierárquico interposto.
Nessa mesma informação publicada na página 'online' da diocese, o bispo Antonino Dias deu conta dos problemas jurídicos em curso e da suspensão das eucaristias deste domingo nas paróquias de Abrantes, dia em que decorreu uma única celebração na Igreja de São Vicente, ao final da tarde, e em que o vigário geral da diocese, monsenhor Paulo Dias, apresentou o padre António Castanheira à comunidade, perante uma igreja repleta.
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