O Governo de Tsipras anunciou esta tarde que “vai proceder imediatamente à elaboração de um projeto-lei, na sequência da intenção dos bispos em formarem uma comissão para negociar com o executivo “os temas de interesse comum”.
No entanto, a conferência episcopal da poderosa Igreja Ortodoxa grega rejeitou horas antes um ponto decisivo do acordo, em que se previa que os clérigos deixem de ser considerados funcionários estatais e que o pagamento do seu salário seja garantido por um fundo financiado pelo Estado.
O gabinete do primeiro-ministro definiu o comunicado conjunto de 06 de novembro como “um passo histórico até à racionalização das relações entre Igreja e Estado” e sublinhou que o projeto-lei será transmitido ao comité especial criado pela conferência episcopal antes de ser submetido a votação.
No entanto, o executivo fez questão de precisar que “o estatuto dos salários dos funcionários eclesiásticos, em qualquer caso, é responsabilidade e decisão do Estado”.
O acordo entre Tsipras e Jerónimo II pretendia solucionar o velho conflito entre Estado e Igreja, que desde a década de 1950 reivindica milhões de hectares de bosques, terras cultiváveis e milhares de bens imobiliários urbanos, com documentos cuja propriedade é dificilmente comprovável e que incluem decretos de imperadores bizantinos ou de sultões otomanos.
A comissão formada pelos bispos para negociar com o Governo destina-se precisamente a abordar a delicada gestão do vasto património imobiliário da Igreja Ortodoxa helénica.
A questão que suscitou divergências entre bispos e clérigos — que pretendem deixar de ser considerados funcionários — permitiria, como anunciou Tsipras citado pela agência noticiosa Efe, a contratação de 10.000 novos empregos públicos, um número considerável num país com um índice de desemprego de 18,9%, e que atinge 36,8% entre os mais jovens.
Apesar de a Grécia ser considerada ‘de jure’ um Estado laico, a Igreja mantém uma vasta influência e detém numerosos privilégios.
A Constituição helénica está redigida “em nome da Santa e Indivisível Trindade”, uma frase que resume o dogma da Igreja Ortodoxa da Grécia.
O Presidente da República também presta juramento “em nome da Santa e Indivisível Trindade” pelo artigo 33.º da Lei fundamental e que, na prática, exclui que seja ateu ou não cristão.
Os representantes da Igreja estão ainda presentes em todos os atos públicos do Estado: a sua bênção precede o início das sessões parlamentares, tal como do ano escolar, e o ícone de Jesus está exposto no parlamento e em todas as salas dos tribunais.
Comentários