"Já ajudei a combater muitos, muitos incêndios, mas de um destes não tenho lembrança", disse à agência Lusa Acácio Almeida Rosa, morador na Candosa, onde os bombeiros passaram a noite em alerta para travar as chamas que desciam pela encosta e ameaçavam as casas.
Desde os anos 1960, quando casou, que mora naquela aldeia à beira do rio Ceira, e fala com espanto do fogo que começou no sábado e que só hoje de manhã cedo foi dado como dominado: "Até o vento ajudou a castigar-nos", propagando as chamas, afirma.
Nos caminhos da serra, sobrevoada por um helicóptero da Força Aérea em vigilância, havia hoje de manhã dezenas de bombeiros e carros parados junto a cada aglomerado de casas.
Enquanto uns descansam do corrupio no combate às chamas, outros mantêm-se vigilantes às fumarolas que despontam por entre as árvores, prontos para intervir se se reacenderem.
Uma equipa ao serviço da EDP restabelecia à entrada da Candosa os cabos de eletricidade e disse à agência Lusa que havia pelo menos 174 quilómetros afetados pelas chamas.
Pela serra, várias equipas técnicas restabeleciam ligações de eletricidade e telefone, mas na Candosa ainda ninguém sabe como estão os das povoações vizinhas.
"Estamos cá num buraco, aqui não dão os telemóveis", insiste Acácio, que já viu que lhe arderam eucaliptos, castanheiros e oliveiras. Pelo menos, as hortas salvaram-se.
Quanto a Maria do Céu, vizinha de Acácio, lamenta o "milho todo escavacado" e está para ver se os javalis da serra, espantados pelo fogo, não vão descer à aldeia.
Ambos antecipam perdas no que é a sua única fonte de rendimento, a agricultura de subsistência, como a de muita da população das aldeias serranas.
A poucos quilómetros, no Capelo, Daniela Fernandes disse à Lusa que a aldeia, com apenas cinco habitantes, esteve rodeada de fogo durante muitas horas sem ter bombeiros por perto e assinalou esperar que não haja reacendimentos que voltem a trazer as chamas para junto das casas.
Mas Daniela Fernandes ainda mostra a aflição que se viveu no Capelo: "Estivemos muito tempo sem bombeiros", lamenta, ressalvando que foram os Sapadores de Coimbra, que ainda estão colocados na aldeia, a prestar uma ajuda preciosa.
No Salgado, aldeia onde apenas moram Carlos Cerejeira e os pais, o incêndio não chegou, mas o susto ainda não passou.
Na serra, a paisagem é maioritariamente negra. Encostas dos vales com centenas de metros de altura estão queimadas de alto a baixo, árvores encarquilhadas e o chão fumegante testemunham a violência do fogo, combatido desde sábado por mais de mil bombeiros.
Reportagem: António Pereira Neves/Lusa
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