“Estas práticas são vitais, mas não podem ser completamente atingidas no curto prazo. Cultivar práticas profissionais que permitam a professores e alunos exercer autonomia e flexibilidade leva tempo. Por exemplo, a aprendizagem interdisciplinar requer que professores de diferentes áreas colaborem e aprendam uns com os outros para encontrar áreas de trabalho comuns. […] Novas práticas pedagógicas e curriculares levam tempo a desenvolver e a ser aplicadas e continuadas. Devido a isto, devem ser encaradas como medidas a longo prazo que futuros governos devem ser fortemente encorajados a comprometer-se a manter”, defende a OCDE.
O ponto de vista da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) consta de um relatório de acompanhamento de peritos desta organização ao programa português de autonomia e flexibilização curricular (PAFC), atualmente em fase piloto em mais de 200 escolas do país.
No documento a OCDE defende ainda que as escolas envolvidas no projeto-piloto e que sejam identificadas como modelos a seguir sejam usadas como “escolas farol”, às quais diretores e professores de outros estabelecimentos possam recorrer como inspiração para boas práticas.
“Ao usar essas escolas como modelo, outras serão encorajadas a serem inovadoras e as autoridades serão também encorajadas a resistir à tentação da uniformização”, refere o relatório.
Nas visitas técnicas realizadas pelos peritos e técnicos da OCDE às escolas do projeto piloto, uma revelou um projeto que juntou alunos e professores de História, Artes e Educação Física na criação de raiz de um jogo de xadrez humano, integrando disciplinas num objetivo comum.
“O jogo apresentou aos alunos conceitos relacionados com a história medieval e o fabrico dos trajes, mas também movimento e pensamentos crítico para demonstrar de que forma os conflitos podem ser resolvidos de forma pacífica”, relata o documento da OCDE.
Segundo o relatório, os professores revelaram que o projeto piloto lhes deu a oportunidade de aprender e melhorar as suas práticas de ensino, ao lhes dar a oportunidade de refletir sobre o desenho dos currículos escolares, para além da oportunidade de trabalhar matérias numa perspetiva de colaboração com os colegas.
O trabalho interdisciplinar e colaborativo, aliado à introdução de contributos externos à escola, sejam de cientistas, empresários locais ou outros membros da comunidade, levou os professores a reportar um maior interesse e sucesso escolar dos alunos.
“O projeto piloto tem o potencial de aumentar a equidade e a inclusão. Tem também o potencial para diminuir as taxas de retenção e de abandono escolar precoce. Por exemplo, uma das escolas visitadas pela OCDE referiu que sem a flexibilização curricular um aluno que chumbe pode ter que repetir em dois anos consecutivos exatamente a mesma matéria, mas com a flexibilidade esse aluno tem a oportunidade de aprender novas matérias de novas formas, de forma mais personalizada e com maior sucesso. A flexibilidade curricular permite também aos docentes criar planos de aulas mais inclusivos para diferentes formas de aprender”, lê-se no relatório.
Pelo seu lado, os alunos destacam a possibilidade criada por este projeto piloto de aprenderem ao lado de alunos de outros anos e realçam a possibilidade de visualizar de forma mais clara a relação entre o que estavam a aprender e o que iriam fazer na universidade, na sua vida profissional e na sua vida pessoal futura, destacando que esta é uma forma de aprendizagem menos “dirigista” do lados dos professores e mais próxima da aprendizagem autónoma que se espera deles quando se tornarem universitários.
A OCDE aponta como desafios ao sucesso deste modelo o conflito desta forma de ensino com o modelo vigente de preparação para exames nacionais, a organização dos tempos escolares, atualmente demasiado rígidos e centrados na sala de aula, dando pouco espaço à interdisciplinaridade e à aprendizagem fora da escola, e as diferenças entre modelos de ensino criadas pelo próprio projeto piloto em comparação com as restantes escolas.
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