Em Chennevières-sur-Marne, a cerca de 18 kms do centro de Paris, a maioria dos eleitores desloca-se durante a tarde em família para os 12 locais de voto espalhados pela cidade. Neste dia ensolarado, a maioria dos eleitores desloca-se a pé para os locais de voto.
É o caso de Cindy Gaio, de 31 anos, filha de portugueses, que confessa ser “socialista” e “com mentalidade mais aberta” e, por isso, não entende porque é que “os franceses querem uma França que já não existe”.
A lusodescendente foi hoje votar na segunda volta das eleições, porque “a França pode mudar ou para pior ou para melhor, depende de quem passar e se for a extrema-direita o país vai andar para trás”.
“Eu vejo também as informações portuguesas, falam muito dos imigrantes, veem-nos como se fossem extraterrestres, mas são pessoas que têm um coração como nós, ossos como nós, têm as mesmas crenças ou podem ter diferenças religiosas, mas todos sabemos que só há um Deus e eu acho isso injusto tendo em conta a História de Portugal e França”, afirmou Cindy Gaio à Lusa.
Ao meio-dia, a taxa de participação na segunda volta das eleições legislativas antecipadas, que determinam a composição da Assembleia Nacional francesa, era de 26,63%. Porém, no departamento de Val-du-Marne a participação parece ser inferior à primeira volta das eleições, o que pode mudar até às 20:00 horas locais (21:00 de Lisboa), quando as urnas fecham nas grandes cidades francesas. No resto do país os eleitores podem exercer o seu direito de voto até às 18:00 horas.
Nesta região onde existem muitos emigrantes portugueses, “os franceses são contra os imigrantes e, por isso a extrema-direita está a subir ao poder”, o que para Cindy Gaio “é uma pena”.
“Eu sei que no tempo dos meus pais, eles vieram para aqui para a trabalhar”, assim como os emigrantes de outros países, “agora há um tipo de imigração que se acha um pouco mais esperta e que quer mais abusar dos sistemas e das ajudas aqui em França, mas não são todos os imigrantes”, acrescentou.
Bechir Bouchouichq, de 39 anos, parece mais otimista e considera que os franceses estão atentos e têm consciência da extrema-direita, mas que estas eleições são “um reflexo da sociedade atual” e “um ponto de viragem” para o país “dos direitos humanos e das liberdades”.
“Historicamente, a França sempre procurou efetivamente uniões a nível partidário para lidar com a extrema-direita. Hoje, não acho que seja necessariamente a melhor solução, mas não havia outra forma possível, porque hoje não é o que eu quero, mas se é o último recurso para lidar com a extrema-direita, acho que é necessário”, acrescentou.
Já Dalga Demirci, de 46 anos, decidiu ir votar embora pense que estas eleições são “assustadoras” e não sabe se irão mudar alguma coisa no país, já que considera a união de partidos de esquerda, Nova Frente Popular, “muito extrema” como o RN.
“Não sou a favor dos partidos da esquerda tradicional, o Partido Socialista, Os Ecologistas e até mesmo o Partido Comunista Francês, estarem a fazer uma aliança com a França Insubmissa (LFI)”, disse à Lusa Noa Pacilly-Omar.
O jovem de 18 anos considera que este escrutínio é "muito repentino" e espera que mude alguma coisa na França, apesar de acreditar que não irá haver “maioria absoluta nem para a Nova Frente Popular, nem para a União Nacional e muito menos para o partido de Macron”, por isso, será “complicado aprovar leis sem fazer pequenas alianças”.
Em relação à extrema-direita, Noa Pacilly-Omar revelou que não gosta, mencionando as revelações de racismo e fascismo de que alguns candidatos foram alvo na última semana e as ideias do partido, “em particular, o direito de cidadania e tudo o que tenha a ver com a abolição de certos empregos para os binacionais, não é nada bom”.
*Por Maria Constantino, da agência Lusa
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