As forças armadas israelitas assumiram o controlo de um barco que tentava entregar alimentos aos palestinianos em Gaza, durante a madrugada de segunda-feira, tendo levado a tripulação de ativistas, entre os quais se encontrava Greta Thunberg, para um porto israelita, avança o The Guardian.
A coligação Freedom Flotilla (FFC), responsável pela iniciativa, afirmou que as forças armadas israelitas “atacaram” e “embarcaram ilegalmente” no Madleen, que tentava entregar ajuda a Gaza.
Uma das últimas comunicações enviadas pelo Madleen antes de se perder o contacto mostrava uma fotografia da tripulação, composta por 12 pessoas, reunidas em círculo, com coletes salva-vidas e as mãos no ar.
A imagem foi partilhada nas redes sociais por uma equipa que colabora com a eurodeputada francesa Rima Hassan, que também seguia a bordo. Foram ainda divulgadas online várias mensagens pré-gravadas pelos membros da tripulação.
“Se estiveres a ver este vídeo, é porque fomos intercetados e raptados em águas internacionais”, afirmou Greta Thunberg numa curta mensagem, apelando à família, amigos e apoiantes para pressionarem o governo sueco a garantir a sua libertação o mais rapidamente possível.
Uma ativista a bordo do veleiro acusou as forças israelitas de terem lançado uma "substância branca" sobre o convés da embarcação, refere a SIC Notícias.
Durante o ataque, Yasemin Acar partilhou um vídeo a mostrar a "substância branca" e a cobrir o rosto, momento que descreveu como uma "ação hostil por parte das autoridades israelitas".
Raptados e levados para um porto em Israel
O ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel anunciou que a tripulação foi levada para Israel e que “se esperava que regressassem aos seus países de origem”, tendo publicado, em seguida, uma imagem de Greta Thunberg a ser-lhe oferecida uma sandes.
Huwaida Arraf, advogada de direitos humanos e organizadora da Freedom Flotilla, disse que Israel não tem autoridade legal para deter a tripulação do Madleen em águas internacionais nem para confiscar a ajuda a bordo, que incluía alimentos, leite em pó para bebés e fornecimentos médicos para serem distribuídos pelos palestinianos.
“Esta apreensão viola flagrantemente o direito internacional e desafia as ordens vinculativas do Tribunal Internacional de Justiça que exigem acesso humanitário irrestrito a Gaza. Estes voluntários não estão sob jurisdição israelita e não podem ser criminalizados por entregarem ajuda humanitária ou desafiarem um bloqueio ilegal, a sua detenção é arbitrária, ilegal e deve terminar imediatamente", defende.
Nas redes sociais, a organização partilhou a identidade de todos os ativistas que compõem a tripulação, assim como orientações sobre as ações necessárias para apresentar queixa e exigir a sua libertação junto das embaixadas.
Reações
Em resposta, o ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel insultou a tripulação, apelidando-a de “celebridades” num “iate de selfies”.
Israel Katz atacou principalmente Greta Thunberg e os restantes membros da tripulação numa publicação na rede X , afirmando que seriam obrigados a ver um filme sobre os ataques do Hamas a 7 de outubro de 2023, que deram início à guerra.
Desde então, os ataques israelitas sobre Gaza já mataram mais de 54.000 palestinianos, a maioria mulheres, crianças e idosos, e feriram mais de 125.000, segundo as autoridades de saúde do território, citados pelo The Guardian.
A relatora especial da ONU para os direitos humanos nos territórios palestinianos ocupados apelou ao Reino Unido para garantir a libertação do Madleen e da sua tripulação, e incentivou outros países a desafiar o bloqueio.
“Todos os portos do Mediterrâneo deveriam enviar barcos com ajuda, solidariedade e humanidade para Gaza”, escreveu Francesca Albanese na rede X. “Romper o cerco é um dever legal dos Estados e um imperativo moral para todos nós.”
Madleen, um dever humaitário
Depois de mais de 600 dias de guerra e um bloqueio israelita total à ajuda humanitária, que já dura há 11 semanas, Gaza atravessa uma crise alimentar dramática. A embarcação fazia uma tentativa simbólica de romper o bloqueio imposto a Gaza e de alertar para uma iminente “crise de fome”. Todos a bordo sabiam o risco de embarcar nesta missão solidária, mas, segundo Greta Thunberg, ativista, "é um dever de todos participar neste movimento".
Nunca foi provável que se conseguisse atravessar o bloqueio naval israelita e chegar ao território, navegando por águas internacionais, cercados de barcos e drones.
Tentar alcançar Gaza por mar é extremamente arriscado. Em Maio, outro barco que navegava no âmbito da coligação Freedom Flotilla — a mesma organização responsável pela viagem do Madleen — incendiou-se ao largo de Malta e lançou um pedido de socorro, após aquilo que o grupo afirmou ter sido um ataque por drones israelitas. As forças armadas de Israel recusaram comentar.
Em 2010, nove ativistas foram mortos quando comandos israelitas invadiram uma pequena frota de navios que tentava levar mantimentos, incluindo materiais de construção, para Gaza. Israel começou a impor o bloqueio a Gaza em 2007.
A resposta ao conflito tem sido cada vez mais violenta. Dezenas de pessoas já foram mortas pelas forças israelitas ao tentarem chegar a centros de distribuição de alimentos.
A agência de defesa civil de Gaza afirmou este sábado que as forças israelitas mataram pelo menos seis palestinianos num tiroteio perto de um centro de distribuição de ajuda apoiado pelos Estados Unidos.
As mortes ocorreram perto do centro de ajuda gerido pelo Fundo Humanitário de Gaza (GHF), no distrito sul de Rafah, que retomara recentemente as distribuições após uma breve suspensão na sequência de incidentes semelhantes no início da semana.
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