Num debate no Fórum do Medicamento, que hoje ocorreu em Lisboa, Ana Paula Martins disse ter ficado “muito preocupada” com o facto de grande parte dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde não medir os resultados dos medicamentos inovadores que são aplicados.
“Isso preocupa-me bastante e deixou-me abismada. Em 70% não temos os resultados dos medicamentos inovadores que aprovamos com tanto esforço”, afirmou a representante dos Farmacêuticos durante o debate no Fórum do Medicamento.
Ana Paula Martins lembrou que na avaliação prévia dos medicamentos há “cuidados enormes” com a efetividade e eficácia dos novos fármacos, que devia continuar depois de serem introduzidos nos hospitais e quando começam a ser tratados os doentes.
“Temos de ter dados objetivos sobre o valor que a inovação produz. E precisamos de recursos humanos e de pessoas bem treinadas”, defendeu a bastonária dos Farmacêuticos, recordando as insuficiências de pessoal no SNS, nomeadamente ao nível das farmácias hospitalares.
Também o presidente da associação que representa a indústria farmacêutica se manifestou surpreendido com a falta de avaliação de eficácia por parte dos hospitais.
O presidente da Apifarma, João Almeida Lopes, manifestou ainda preocupação com as “barreiras criadas dentro” dos próprios hospitais antes de submetidos à Autoridade do Medicamento os pedidos de autorização para medicamentos inovadores.
“Não faz sentido criar barreiras dentro das unidades de saúde. Leva a atrasos e a falta de equidade. Sou levado a pensar que essas barreiras são criadas por falta de financiamento”, afirmou no Fórum, que decorreu em Lisboa.
Apenas 30% dos hospitais fazem uma avaliação dos resultados do uso de medicamentos inovadores e esse acompanhamento é feito sobretudo pelos dados dos consumos e não do ponto de vista de melhoria do estado de saúde.
O estudo sobre acesso a medicamentos em meio hospitalar, que hoje foi apresentado, indica que em 70% dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que foram inquiridos não são monitorizados sistematicamente os resultados das novas terapêuticas depois de introduzidas.
“Após a introdução de uma nova terapêutica, 61% das instituições não possuem nenhum mecanismo de reavaliação dos resultados”, refere o Índex Nacional do Acesso ao Medicamento Hospitalar.
Entre os 30% de unidades que indicaram fazer sistematicamente esse acompanhamento, a maior parte realiza a monitorização pelo número de doentes abrangidos.
Mesmo nos dados que os hospitais comunicam à Autoridade do Medicamento — Infarmed – sobre novos medicamentos, apenas em 21% das unidades é transmitida informação sobre os resultados de efetividade dos novos tratamentos.
Os medicamentos inovadores são, ainda assim, submetidos sempre a uma avaliação prévia de eficácia e efetividade, mas a análise que é feita neste estudo, através de inquérito aos hospitais, incide na monitorização dos resultados depois de introduzidos novos medicamentos considerados inovadores e administrados aos doentes.
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