Nunca a compreensão da identidade europeia foi tão importante na história do projeto europeu. Numa União Europeia desgastada pelo Brexit, pela crise dos refugiados e pela ameaça de rutura em algumas democracias, as eleições europeias que decorrerão entre 23 e 26 de maio são, na opinião de muitos, um teste à vitalidade do projeto europeu.
Com as sondagens e eleições recentes a mostrarem um distanciamento perigoso entre os eleitores e os seus representantes (a participação eleitoral em 2014 foi de 42,61% no total dos países europeus; 33,67% em Portugal), olhar para a Europa para além da moldura política das suas instituições torna-se urgente, independentemente do rumo político que os europeus decidam seguir.
Essa urgência leva-nos de volta a questões bem mais quotidianas - desde os produtos que produzimos e consumimos à forma como trabalhamos, à energia que gastamos, à água que não poupamos, aos transportes que escolhemos (e nos dão a escolher) e à importância que damos a poder trabalhar, estudar ou viajar numa Europa sem fronteiras. Estas, entre tantas outras questões, são as que fazem, realmente, de nós europeus, cidadãos que partilham um mesmo espaço, uma mesma história e que se tornaram europeus pela aceitação tácita das suas diferenças.
Provavelmente, é na geração menos interessada nas eleições que encontramos uma maior normalidade, vamos chamar-lhe assim, do que é ser europeu. É na geração dos 18-24 que estudar ou trabalhar em Lisboa, no Porto ou em Faro é tão normal como trabalhar em Praga, Bilbau ou Amesterdão. É na geração dos 18-24 que planear um fim de semana em Londres ou em Madrid é tão normal quanto combinar com os amigos a ida a um festival de verão em Portugal. É na geração dos 18-24 que, para o melhor e para o pior, realidades como Uber, Airbnb ou Revolut são sinónimos de liberdade de movimentos onde quer que se esteja. É esta mesma geração que em 2014 registou uma taxa de abstenção nas eleições europeias de 81,4%.
Claro que há outras Europas. Há uma Europa dos mais velhos nas zonas mais afastadas dos grandes centros que sente, em várias medidas, o projeto europeu como uma dupla penalização, geográfica e etária. Estão demasiado longe para serem vistos e são demasiado velhos para serem cool e integrarem a nova sociedade em que prevalece a ideia de que é preciso ser-se jovem para sempre. Aos mais velhos excluídos pela geografia e pela literacia somam-se menos velhos a quem a Europa que garante condições de longevidade não sabe que vida dar, como é o caso das novas gerações de 60 e 70 anos que recusam ir para casa ver televisão e esperar que o tempo passe.
Há muitas Europas, como se vê, e o discurso político nem sempre tem conseguido trazer para a discussão todos os que dependem daquilo que será a Europa nos próximos anos. Mesmo quando em Estrasburgo ou Bruxelas se produzem decisões que melhoram a vida dos europeus, as notícias raramente batem à porta de quem um dia, de quatro em quatro anos, é chamado a votar.
Falar da Europa é, por isso, essencial, difícil, talvez até ingrato. Mas é preciso que se fale e é isso que nos propomos fazer aqui, numa nova área do SAPO24 que hoje lançamos e onde vamos procurar trazer a realidade de ser europeu nas suas diferentes expressões, seja nas notícias, nas reportagens, nas entrevistas ou em algumas iniciativas de caráter especial que temos planeadas.
A coordenação é da Isabel Tavares e a imagem gráfica é da Mariana Wang. Pedro Botelho (reportagens e multimedia), Francisco Sena Santos (opinião) e Inês F. Alves (edição) completam a equipa residente que contará com vários outros contributos.
O que é que faz de nós europeus? Façam-nos chegar as vossas ideias e sugestões através do email 24@sapo.pt.
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