A votação decorreu na sessão plenária da assembleia europeia, na cidade francesa de Estrasburgo, e foi feita por escrutínio secreto, num total de 394 votos a favor, 206 contra e 49 abstenções.
Em declarações à agência Lusa no final da votação, o eurodeputado comunista João Ferreira explicou que o PCP votou contra porque “se está a falar de alguém que, na próxima crise do euro – e haverá uma próxima – vai encarar como fatores de ajustamento os salários e os empregos e, por isso, haverá uma redução de salários e um aumento brutal do desemprego”.
O comunista recordou, assim, que Christine Lagarde já estava à frente do Fundo Monetário Internacional (FMI) quando a ‘troika’, também composta pelo BCE e pela Comissão Europeia, liderou o programa de ajustamento económico e financeiro feito a Portugal, “inspirado na dita austeridade expansionista que ela defendia e cujos programas se revelaram devastadores do ponto de vista económico e social”.
“Quando Lagarde, confrontada com o desastre que causou, se veio desculpar com multiplicadores que não tinham sido corretamente determinados, não mudou propriamente convicções”, considerou João Ferreira.
Posição semelhante manifestou o eurodeputado bloquista José Gusmão, que indicou à Lusa que o BE votou contra porque Christine Lagarde esteve por detrás de “um programa de ajustamento completamente desastroso e cujas escolhas políticas ela fez questão de voltar a defender”.
“A partir do momento em que o percurso de Christine Lagarde está associado a programas de austeridade um pouco por todo o mundo, com consequências trágicas do ponto de vista social e das contas públicas […], nunca poderíamos apoiar a sua eleição para presidente do BCE”, justificou José Gusmão, vincando que este passado é mais significativo do que “meia dúzia de declarações públicas mais simpáticas nos últimos tempos com o objetivo de se tornar mais consensual”.
Já PS, PSD, CDS e PAN deram aval à nomeação.
O eurodeputado socialista Pedro Silva Pereira observou que Lagarde, além de ter “as qualificações e a experiência política para exercer funções no BCE”, manifestou “vontade de dar continuidade à política monetária de Mario Draghi”.
“E nós precisamos de ter à frente do BCE alguém que esteja disposto a vencer as resistências” e de “uma aliada para concluir a reforma da união económica e monetária e da união bancária e a senhora Lagarde deu essas garantias”, acrescentou Pedro Silva Pereira.
Para o PSD, a escolha de Lagarde para presidente “segue os compromissos que tinham sido assumidos”, afirmou à Lusa a eurodeputada Lídia Pereira.
“É uma grande oportunidade para continuar não só o que tem sido feito pelo BCE, mas também […] acreditamos que Christine Lagarde estará em posição de continuar a exigir a todos os Estados-membros as reformas necessárias para fazer face a períodos de crise que possam, eventualmente, surgir e também para completar a união bancária e continuar o caminho positivo que tem sido feito na zona euro”, precisou a eurodeputada social-democrata.
O eurodeputado do CDS-PP, Nuno Melo, observou, por seu turno, que Lagarde “é uma pessoa com currículo e com um trajeto de vida que mostra competência e que, nesta escolha, traduz um entendimento institucional importante num momento sensível da União Europeia [UE]”.
“Esta nomeação contribui para essa estabilidade e regularidade institucional num momento muito difícil na UE, em cima do ‘Brexit’ e de outros dossiês que carecem de muita atenção”, referiu Nuno Melo.
Já pelo PAN, o eurodeputado Francisco Guerreiro justificou o voto favorável com o facto de ter sido “positivo ela [Christine Lagarde] reconhecer os erros que teve no passado”, sendo que “esse reconhecimento é importante para não cometer esses mesmos erros no futuro”.
Acresce que “é uma pessoa experiente e com visão europeísta, [que] quer reforçar a união bancária e monetária e preparar a UE para possíveis choques financeiros no futuro”, adiantou Francisco Guerreiro.
A aprovação de hoje é o aval final, sendo que o nome de Christine Lagarde já tinha tido ‘luz verde’ da comissão parlamentar dos Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu.
Christine Lagarde será a primeira mulher a assumir a presidência do BCE, depois de ter sido também a primeira mulher na liderança do FMI, e sucede no cargo a Mario Draghi.
Deverá tomar posse a 01 de novembro para um mandato de oito anos, não renováveis.
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