Na quarta-feira, Trump e Putin conversaram por telefone sobre como acabar com o conflito, iniciado em fevereiro de 2022.

"Não há traição", afirmou o secretário americano de Defesa, Pete Hegseth, ao chegar esta quinta-feira à sede da NATO, em Bruxelas, para uma reunião de ministros da aliança militar.

Além do anúncio de Trump, os aliados europeus da NATO ficaram ressentidos com o facto de o presidente americano ter negociado diretamente com Putin, sem prometer ao bloco e à Ucrânia um lugar na mesa de negociações.

Hegseth afirmou que todos os membros da NATO reconheceram que os "Estados Unidos estão comprometidos com uma paz negociada", para acabar com o conflito entre russos e ucranianos.

A paz, acrescentou, "exigirá que os dois lados admitam coisas que não querem".

A posição dos países europeus continua baseada na premissa de "não discutir nada sobre a Ucrânia sem a Ucrânia" e, por isso, a iniciativa de Trump representou um balde de água fria.

Esta quinta-feira, a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, advertiu que um acordo sem a participação da UE "simplesmente não funcionará", porque precisaria da Europa e da Ucrânia para sua implementação.

"Sem a nossa presença na mesa, podem estabelecer um acordo sobre qualquer coisa, mas fracassará, simplesmente porque não haverá implementação", insistiu a ex-primeira-ministra da Estónia.

Pouco antes de receber Hegseth, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, disse que era "crucial" que a Ucrânia esteja "estreitamente envolvida" em tudo que diz respeito ao país.

O chefe de Governo da Alemanha, Olaf Scholz, rejeitou esta quinta-feira o que chamou de uma "paz ditada" e disse que os europeus devem assegurar que isto "não aconteça".

Um lugar à mesa para a Ucrânia

Na sede da NATO, o ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, considerou "lamentável" que Washington já tenha feito "concessões" antes da instalação formal da mesa de negociações.

"Teria sido melhor falar sobre a possível adesão da Ucrânia à NATO, ou a possível perda de território ucraniano na mesa de negociações", acrescentou o ministro alemão.

Na quarta-feira, Hegseth afirmou na NATO que um eventual processo de paz deve começar pelo reconhecimento de que um retorno às fronteiras da Ucrânia de antes de 2014 é "um objetivo pouco realista". Isto significa que Kiev deveria pelo menos renunciar à península da Crimeia, tomada e anexada naquele ano por Moscovo.

O ministro francês da Defesa, Sebastien Lecornu, disse nesta quinta-feira que diante da situação, a NATO está "diante do grande momento da verdade".

John Healey, ministro da Defesa do Reino Unido, comentou que "não pode haver negociações sobre a Ucrânia sem a Ucrânia".

Por sua vez, Pal Johnson, ministro da Defesa da Suécia, considerou "natural" que os países europeus "estejam envolvidos nas discussões".

O ministro ucraniano da Defesa, Rustem Umerov, disse em Bruxelas que o seu país vai prosseguir com a resistência ao poderio russo.

"A mensagem é que continuaremos. Somos fortes e capazes, e acabaremos conseguindo", disse Umerov ao chegar à sede da NATO.

Fora do continente e do âmbito da NATO, a China expressou esta quinta-feira sua satisfação de que EUA e Rússia "reforcem sua comunicação", pois são "dois países muito influentes".

O porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Guo Jiakun, afirmou esta quinta-feira que "a China sempre acreditou que o diálogo e a negociação são a única forma viável de resolver a crise (ucraniana) e sempre esteve comprometida com a promoção da paz".

Em Moscovo, o Kremlin expressou o interesse numa organização "rápida" de um encontro entre Trump e Putin.

Na quarta-feira, Trump mencionou a possibilidade de uma reunião com Putin na Arábia Saudita, mas não antecipou uma possível data.

Na quarta-feira, os ministros das Relações Exteriores da França, Alemanha, Polónia, Itália, Espanha e Reino Unido divulgaram um comunicado no qual defenderam o seu papel nas negociações.

"A Ucrânia e a Europa deveriam fazer parte de qualquer negociação. É necessário dar à Ucrânia fortes garantias de segurança. Uma paz justa e duradoura é uma condição necessária para uma forte segurança transatlântica", afirmaram.