“Temos sinais promissores de que os psicadélicos podem ser usados de forma responsável quando são tomadas as devidas salvaguardas”, diz Albino J. Oliveira-Maia, diretor da Unidade de Neuropsiquiatria da fundação e coautor da análise, citado no comunicado.

“Mas parte do uso responsável é avaliar e gerir cuidadosamente os riscos, especialmente quando consideramos a administração destes tratamentos em mais tipos de doentes”, adianta.

Segundo o comunicado, dados iniciais de ensaios clínicos controlados sugerem que determinados psicadélicos combinados com apoio psicológico podem ajudar a aliviar sintomas de Perturbação Depressiva Major (PDM), Depressão Resistente ao Tratamento (DRT) e Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT) e talvez tratar doentes com “transtornos por uso de substâncias”.

Os autores da análise – também psiquiatras das universidade de Toronto (Canadá) e de Stanford (Estados Unidos) -, divulgada numa edição especial da revista American Journal of Psychiatry, consideram que “para avançar de forma segura e eficaz neste campo” é necessário saber mais, por exemplo, sobre a segurança dos psicadélicos a curto e longo prazo.

Questões que levantam preocupações são o “Transtorno Persistente de Perceção por Alucinogénios (HPPD, na sigla em inglês) - uma condição em que as pessoas podem continuar a sentir ‘flashbacks’ recorrentes de efeitos visuais semelhantes aos que ocorreram sob efeitos dos psicadélicos, muito tempo após o uso” e a saúde cardiovascular, já que “algumas evidências (provas) preliminares sugerem possíveis riscos para as válvulas cardíacas”.

Os cientistas chamam também a atenção para a dificuldade de utilizar nos estudos clínicos sobre os psicadélicos a estratégia do “blinding” (ou ocultação), que “visa garantir que nem os participantes nem os investigadores sabem quem está a receber o tratamento real e quem está a receber um placebo (substância sem propriedades terapêuticas ativas)”.

“É fundamental que ensaios clínicos nesta área recorram a formas criativas de preservar esta ocultação, tais como o uso de ‘placebos ativos’ que imitam alguns dos efeitos subjetivos dos psicadélicos, ou contar com avaliadores independentes - pessoas que não estão diretamente envolvidas na administração dos tratamentos - para acompanhar o progresso dos doentes”, sustenta Oliveira-Maia.

O psiquiatra defende ainda que são necessários estudos para determinar a importância da psicoterapia nos resultados dos doentes e assinala que as terapias psicadélicas poderão exigir “recursos significativos, incluindo pessoal com formação específica, espaços que assegurem a privacidade dos doentes e supervisão regulamentar para garantir os padrões de segurança e ética”.

Para que estes tratamentos caros sejam acessíveis a um maior número de doentes é necessário integrá-los nos sistemas de saúde mental existentes, “de forma economicamente viável e escalável”.

Que tipos de doentes têm maior probabilidade de beneficiar destas terapias? Como os efeitos positivos podem ser sustentados ao longo do tempo? Ou como os psicadélicos interagem com outros medicamentos psiquiátricos? são algumas das questões que os autores da análise consideram que devem ser abordadas em estudos futuros.