O Presidente francês, Emmanuel Macron, pediu hoje para que “todas as forças políticas e sindicais, os empregadores façam um claro e explícito apelo à calma”.
A frase foi citada pelo porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, e revela bem como Macron se procura associar ao executivo de Édouard Philippe, o primeiro-ministro que, tal como o Presidente, procura medir cada palavra na tentativa de placar a crise dos “coletes amarelos”.
Em quase imediata resposta, os líderes das cinco maiores confederações representativas dos trabalhadores decidiram marcar uma reunião para quinta-feira.
A reunião decorrerá antes da reunião que as organizações terão com o ministro do Trabalho, Muriel Pénicaud, e com a ministra dos Transportes, Élisabeth Borne, na sexta-feira, com uma longa agenda de temas para discussão, mas onde a crise dos “coletes amarelos” é o pano de fundo e pretexto fundamental do encontro.
Michel Wieviorka, sociólogo da Escola de Altos Estudos de Paris, citado pela agência France Presse, diz que os manifestantes estão a tentar provar que o “governo tem falta de jeito e que nunca reconhecerá a natureza negativa da sua política”.
E esta perspetiva, vinda de dentro do círculo universitário parisiense, parece alastrar-se, com a indicação, chegada hoje de núcleos ativistas da Sorbonne, de que os estudantes se preparam para se associarem ao movimento, em maior força e com maior visibilidade.
Uma sondagem da empresa Elabe, hoje divulgada, revela que 78% dos franceses pensa que as medidas esta semana anunciadas pelo governo não respondem às solicitações dos manifestantes e dos cidadãos descontentes que as apoiam.
A sondagem indica que a aprovação popular das manifestações continua alta e que 72% dos franceses mostram simpatia pelo movimento “coletes amarelos”.
As medidas anunciadas terça-feira pelo primeiro-ministro, Édouard Philippe, de suspender aumentos de impostos foram ineficazes perante os ânimos exaltados dos manifestantes, que dizem que elas sabem “a pouco e vieram tarde”.
Contudo, a sondagem da Elabe também revela que os franceses consideram que tem havido muitos excessos e são já 37% (mais 6% do que há duas semanas) os que consideram que os protestos devem abrandar de tom.
Os excessos das recentes manifestações em Paris levaram hoje a que um juiz indiciasse 13 pessoas, incluindo um menor, de cometer atos de degradação no monumento do Arco do Triunfo, com três delas a serem colocadas em prisão preventiva.
Os suspeitos foram indiciados por “intrusão não autorizada em local histórico” e por participação em grupo formado para fomentar violência e degradação de património”, entre outros crimes.
Mais de 400 pessoas foram detidas no sábado em Paris, de acordo com o chefe de polícia Michel Delpuech, que hoje falou de atos de “violência de gravidade sem precedentes”.
As detenções resultaram em 383 colocações em custódia policial (349 para adultos e 34 para menores), de acordo com um relatório final do Ministério Público, hoje divulgado.
O receio do governo francês é que estas manifestações persistam nas próximas semanas, com mais manifestações a serem convocadas, já para o próximo sábado.
O primeiro-ministro convocou hoje para a Assembleia “todos os atores do debate público” para assumirem “responsabilidade”, enquanto os “coletes amarelos” preparando-se para as novas manifestações agendadas.
“Todos os atores no debate público, políticos, líderes sindicais, editorialistas, cidadãos, serão responsáveis pelas suas declarações nos próximos dias. Sim, eu lanço aqui um apelo por responsabilidade”, disse Philippe.
As palavras de Édouard Philippe esbarram contra o sentimento dos manifestantes.
Benjamin Cauchy, um dos porta-vozes do movimento “coletes amarelos” repetia hoje que “os franceses não querem migalhas”.
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