“Estou a seguir esta campanha eleitoral, como os espanhóis. Já estou cansada. É mais do mesmo”, disse à agência Lusa a ‘designer’ Vânia Colaço, há 12 anos em Espanha.
As eleições de domingo são as quartas dos últimos quatro anos, desde que em 2015 Unidas Podemos e Cidadãos terem aparecido em força para dividir o voto dos espanhóis que até aí votavam maioritariamente no PSOE ou no PP, que durante quase 40 anos se foram intercalando na responsabilidade de formar governo.
Para esta portuguesa que não vota nas legislativas, visto não ter a dupla nacionalidade, “há quatro anos que se está em campanha eleitoral permanente”, o que está a levar os eleitores “a um ponto de saturação”.
“Vi só a parte inicial do debate [entre os cinco principais candidatos] na segunda-feira à noite e pareceu-me mais do mesmo, uma caricatura”, disse Vânia Colaço ao mesmo tempo que encolhia os braços.
Por seu lado, Alexandre Cardoso, um responsável comercial há quase quatro anos na capital espanhola, sublinhou a sua “indiferença” em relação há “confusão política” do país, acreditando que as eleições de domingo “não vão levar a lado nenhum”.
“Acordo aqui só se for entre os partidos de direita [PP, Cidadãos e Vox]. A esquerda não consegue chegar a um compromisso”, afirmou Alexandre Cardoso.
O líder do Unidas Podemos (extrema-esquerda), Pablo Iglesias, voltou no único debate televisivo na segunda-feira à noite a estender a mão a um acordo de esquerdas, tendo o secretário-geral do PSOE (socialista), Pedro Sánchez, recusado que ele possa estar nesse governo, uma questão que já tinha dividido os dois partidos em julho último.
“Acho que não é de afastar a possibilidade de voltarem a ter eleições, mais uma vez, mas isso não me preocupa muito”, afirmou este português, explicando a seguir que, “apesar do impasse político há vários anos, a economia e as taxas de crescimento continuam elevadas.
Sobre o problema catalão, Alexandre Cardoso pensa que o Governo “devia ser mais duro”, como defende o Vox (extrema-direita), e acabar com a situação em que metade da população da região autónoma “impõe a sua forma de pensar e promove a insubordinação com a ajuda da violência”.
Um outro português, André Santos, também ‘designer’, comparou a situação em Espanha com a de Portugal, em que “todos os políticos, e não só, o que querem é poleiro” e “quem paga é o mexilhão”.
“Isto de ter de haver uma maioria absoluta não pode ser. Deviam começar a pensar no bem do país e permitir que o mais votado possa governar”, defendeu o português.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, propôs no debate televisivo um pacto entre os partidos para permitirem que o partido mais votado governe em minoria, para assim desbloquear a governação do país.
André Santos lamentou a “miséria” em que Espanha vive há quatro anos, com a situação económica “a piorar”, e “ainda por cima com o ‘Brexit’ à porta”.
O empresário português Carlos Schulz, há dez anos em Madrid, também alertou para os perigos que a instabilidade política pode significar para a economia espanhola.
“A economia não está mal, mas a estabilidade política é essencial para os negócios e começa a haver sinais que nos deviam preocupar, como o receio que os investidores começam a ter, por exemplo em meter o dinheiro na Catalunha, mas também em Madrid”, disse.
Os estudos de opinião publicados nos últimos dias dão a vitória ao PSOE, mas a perder força em relação às eleições de 28 de abril último, com o bloco de partidos de direita ligeiramente à frente dos de esquerda, sem que nenhum deles possa, aparentemente, desbloquear o impasse político que se vive no país.
As eleições do próximo domingo foram convocadas em setembro pelo rei de Espanha, depois de constatar que Pedro Sánchez não conseguiu reunir os apoios suficientes para ser investido primeiro-ministro pela maioria absoluta dos deputados ou, numa segunda volta, apenas pela maioria simples.
Por: Fernando Paula Brito da agência Lusa
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