“Porque estamos em tempo de balanço, só podemos concluir que quem conduz hoje o país é uma maioria que tem tanto de demagógica como de ilusionista, cujo único projeto comum é o desejo de manter as aparências de estabilidade, pois só essa estabilidade lhe garante a manutenção do poder”, acusou o líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, na intervenção de fundo do partido no debate do estado da nação.
Para Negrão, a atual solução “nada mais tem para oferecer aos portugueses”, considerando que são cada vez mais evidentes “as grosseiras contradições desta coligação de esquerda, que não hesita em sacrificar o bem-estar comum ao mais elementar instinto de sobrevivência política de cada uma das partes que compõe esta geringonça”.
“Por isso, não se iluda, senhor primeiro-ministro: ao contrário do que diz, esta geringonça não está no coração dos portugueses. E sabe porquê? Porque os portugueses não se deixam levar por conversa fiada, por quem diz uma coisa e faz outra, por quem não honra a sua palavra”, acusou, numa passagem muito aplaudida pela sua bancada, que no final se levantou para aplaudir Negrão.
Na sua intervenção, Negrão defendeu que os atuais resultados económicos positivos foram alcançados, em alguns casos, “apesar do Governo”, sublinhando que beneficiou de uma conjuntura externa favorável e da ‘herança’ deixada pelo anterior executivo PSD/CDS-PP e lamentando que não tenha aproveitado melhor devido à matriz desta solução governativa.
“Nunca foi fazer, mas sim desfazer. A natureza desta maioria de esquerda é a do escorpião, não resiste a fazer mal quando pode e promete fazer bem”, acusou, apontando como factos negativos o crescimento português entre os mais baixos da União Europeia, o desemprego jovem e o aumento da carga fiscal indireta.
Negrão sustentou que “a realidade não esconde que esta é uma solução governativa esgotada”, apontando o descontentamento em classes como as dos professores, dos profissionais de saúde ou o descontentamento dos utentes do Serviço Nacional de Saúde e das populações afetadas pelos incêndios do ano passado.
“Se isto não é um governo esgotado, então o que é?”, questionou, repetidas vezes.
Dedicando uma parte significativa da sua intervenção de mais de 20 minutos com casos de relatos e denúncias do mau funcionamento no SNS, Negrão acusou o Governo de “desamparar e abandonar os portugueses”, depois de ter deixado o setor em situação de "pré-bancarrota" em 2011.
“Os portugueses estão cansados de um governo que foge às responsabilidades, que não assume as trapalhadas e que vai de férias quando as respostas não lhe agradam”, criticou.
O líder parlamentar do PSD fez questão de falar no tema da corrupção, "um dos cancros da democracia", considerando que ignorá-lo seria “uma forma infantil e até indigna” de pretender que o problema não existe, embora reconhecendo que “nos últimos tempos têm sido dados passos importantes”.
“Devemo-lo muito a uma imprensa livre que denuncia e dá visibilidade a muitos casos que de outro modo permaneceriam ocultos a coberto das sombras. Mas devemo-lo sobretudo à ação de um Ministério Público autónomo e atuante, relativamente ao qual devemos estar atentos por forma a contribuir para o aperfeiçoamento, reforço e apoio, em cada momento, do trabalho que leva a cabo. Doa a quem doer!”, afirmou.
Fernando Negrão recuperou ainda o caso do roubo de material militar em Tancos, há quase um ano, para apontar que este é um Governo que “não investiga, esconde”, que “não indaga, inventa culpados”, “que não está interessado em apurar a verdade, mas em branquear falhas graves com palavras mansas”.
Na parte final do seu discurso, Negrão explicou qual seria a alternativa do PSD: “Não criamos falsas expectativas aos portugueses, nem prometemos o que sabemos que não podemos cumprir. Também não defendemos que o Estado seja um fim em si mesmo, cada vez mais voraz, que é preciso alimentar”, apontou, elegendo "o valor das pessoas acima de todas as coisas" como o AND do partido.
Com o PSD no poder, acredita o líder parlamentar do PSD, teria sido possível, por exemplo, reduzir a dívida pública e avançar na reforma da Segurança Social.
“Vivemos um momento de anestesia nacional, fruto da propaganda do Governo, mas chegará o dia em que se perceberá que esta foi uma oportunidade perdida. Este último ano legislativo não teve nada de ‘saboroso', senhor primeiro-ministro. Este foi um ano especialmente amargo para os portugueses!”, concluiu Fernando Negrão.
Negrão gastou todo o tempo restante do PSD na sua intervenção, o que foi criticado pelo socialista António Sales, que lhe dirigiu um pedido de esclarecimento, mas já sem direito a resposta.
“Gastou três quartos da sua intervenção a falar no Serviço Nacional de Saúde e não deixou tempo para responder, deve ter a consciência muito pesada”, acusou.
Segundo o deputado socialista, no passado recente, os utentes do SNS “vinham à Assembleia da República para que não os deixassem morrer”, uma declaração que motivou apartes exaltados da bancada social-democrata.
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