“Foram desenvolvidos em 2019 um conjunto de sondagens arqueológicas distribuídas por toda a extensão do terreno”, indicou a Fidelidade à agência Lusa, explicando que os terrenos da antiga Feira Popular de Lisboa se localizam numa zona que obriga à execução de trabalhos arqueológicos prévios, o que resultou na identificação de “um conjunto de realidades arqueológicas de cronologias variadas”.
Assegurando que os trabalhos estão a ser realizados em estreita articulação com a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), a empresa proprietária dos terrenos adiantou que, atualmente, está em execução “uma escavação arqueológica alargada, que permitirá a caracterização e registo de todas as realidades arqueológicas existentes na área em análise, cumprindo-se assim com o princípio legal da conservação pelo registo”.
Neste momento, é possível observar “um conjunto de estruturas em positivo, edificadas em alvenaria de pedra e argamassa de cal de cronologias moderna e contemporânea”, referiu a empresa, revelando que a grande maioria das estruturas visíveis são de cronologia contemporânea (século XIX) e que, num plano inferior, podem observar-se estruturas de cronologia moderna, em alvenaria de pedra, e um conjunto de fossas, escavadas no sedimento argiloso existente, também executadas em período moderno (séculos XVII/XVIII).
“Sob estas realidades e já muito afetadas por estas ocupações mais recentes, podem observar-se alguns pisos e restos de muros resumidos às suas fundações de cronologia romana (vestígios ainda não intervencionados)”, informou a Fidelidade, em resposta escrita à agência Lusa.
A empresa destacou ainda a sua experiência nesta matéria, em resultado de outros empreendimentos imobiliários que desenvolveu recentemente e nos quais os temas de património arqueológico estiveram presentes, inclusive nos projetos desenvolvidos na zona ribeirinha de Lisboa.
Após a execução dos trabalhos arqueológicos nos terrenos da antiga Feira Popular de Lisboa e a aprovação dos respetivos relatórios por parte da DGPC, estarão “reunidas as condições para a execução das obras de construção civil previstas para o local”, esclareceu a empresa, sem avançar com uma data.
Em resposta à agência Lusa, a DGPC esclareceu que as operações urbanísticas previstas para os terrenos da antiga Feira Popular decorrem no âmbito da designada Unidade de Execução de Entrecampos, de iniciativa privada, em que se prevê a construção de edifícios destinados a escritórios, comércio e habitação.
“Para efeitos de gestão das intervenções futuras e em curso, foi implementada uma divisão da área em ‘A’ e ‘B’, recorrendo ao atual caminho de pé posto que liga diretamente a Avenida da República à Avenida 5 de Outubro, como eixo divisório”, apontou a DGPC, confirmando que os trabalhos arqueológicos decorrem desde finais de 2019.
Sobre a natureza dos vestígios já encontrados, a entidade responsável pela gestão do património cultural em Portugal continental disse que “não se confirmou, até ao presente, a existência de uma necrópole romana”, mas está documentada a presença de uma área de caráter habitacional desta época, embora o caráter muito preliminar dos trabalhos não permita adiantar informação fundamentada sobre datações ou funcionalidades.
“Disseminados por toda a área são observáveis materiais atribuíveis à pré-história recente (neolítico final-calcolítico, viragem do 4.º para o 3.º milénio a.C.). Registam-se em depósitos remobilizados de origem aluvionar e/ou coluvionar aparentando estar relacionados com o sítio arqueológico localizado a poente, no designado Loteamento das Forças Armadas”, adiantou a DGPC, acrescentando que na área ‘A’ foi identificada uma zona de ocupação humana que “de forma muito preliminar está a ser associada ao paleolítico”, mas a escavação deste espaço ainda não foi iniciada.
De acordo com a Câmara Municipal de Lisboa, o promotor das intervenções previstas para os terrenos da antiga Feira Popular de Lisboa “tem um Pedido de Informação Prévia aprovado, fase que antecede o pedido de licenciamento para o início das obras propriamente dito”, esclarecendo que os trabalhos que se desenvolvem no local resultam de um plano de sondagens e de subsequentes escavações da responsabilidade do proprietário/particular, aprovados pela DGPC.
Em 2006, quando o terreno estava sob responsabilidade da Bragaparques, a empresa assegurou que as obras previstas acautelavam eventuais achados arqueológicos que pudessem existir no subsolo, após ter sido noticiada a possibilidade de existir um cemitério romano ou mesmo uma vila.
Em dezembro de 2018, a Fidelidade Property comprou à Câmara de Lisboa todos os terrenos que integravam a hasta pública da antiga Feira Popular, dois lotes e uma parcela de terreno, por 238,5 milhões de euros.
Este leilão constituiu o arranque da chamada Operação Integrada de Entrecampos, que prevê a construção de 700 fogos de habitação de renda acessível naquela zona da capital (515 construídos pelo município) e de um parque de estacionamento público na Avenida 5 de Outubro. A operação está orçada em 800 milhões de euros, dos quais 100 milhões serão responsabilidade do município.
Nos terrenos da antiga Feira Popular vão nascer mais 279 habitações, que serão colocadas em regime de venda livre, e escritórios, que a autarquia prevê que levem à criação de 15 mil novos empregos.
Após a compra, a seguradora avançou, em comunicado de imprensa, que ia também nascer ali “a nova sede do grupo em Lisboa".
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