No âmbito da operação de deportação em massa decretada por Donald Trump, o Governo norte-americano está a utilizar meios materiais e humanos das Forças Armadas para ajudar no repatriamento de imigrantes e para proteger a fronteira.

Por exemplo, dois aviões de carga C-17 da Força Aérea que transportavam migrantes retirados dos EUA aterraram na manhã de sexta-feira na Guatemala. No mesmo dia, as Honduras receberam dois voos de deportação transportando um total de 193 pessoas.

A Colômbia ainda não tinha recebido migrantes, mas o seu presidente, Gustavo Petro, anunciou hoje que proibiu a entrada de aviões militares norte-americanos com colombianos deportados.

“Um migrante não é um criminoso e deve ser tratado com a dignidade que um ser humano merece. É por isso que fiz recuar os aviões militares norte-americanos com migrantes colombianos”, escreveu Gustavo Petro na rede social X.

O chefe de Estado colombiano, crítico do seu homólogo norte-americano, não referiu quantos voos dos Estados Unidos estão programados para aterrar na Colômbia, nem quantos migrantes deportados transportam.

“Não posso obrigar os migrantes a permanecer num país que não os quer, mas, se esse país os enviar de volta, deve ser feito com dignidade e respeito por eles e pelo nosso país. Vamos receber os nossos cidadãos em aviões civis, sem os tratar como criminosos”, declarou Petro.

Para resolver a situação com a dignidade que considera certa, o Governo colombiano anunciou ainda o envio do avião presidencial para facilitar saída de imigrantes deportados dos EUA.

"O Governo da Colômbia, sob a liderança do presidente Gustavo Petro, disponibilizou o avião presidencial para facilitar o regresso digno dos cidadãos que deveriam chegar ao país esta manhã, em voos de deportação", informou o gabinete presidencial da Colômbia num comunicado.

Como é que Trump reagiu a esta decisão? 

A decisão não foi vista com bons olhos pelos EUA e provocou a ira do presidente norte-americano, que promete retaliar com sanções após dois voos terem sido rejeitados.

Assim, Trump anunciou que irá aplicar tarifas, restrições de vistos e outras medidas de retaliação contra a Colômbia. Para o presidente norte-americano, estas medidas são necessárias porque a decisão de Gustavo Petro, “coloca em risco” a segurança nacional nos EUA.

“Estas medidas são apenas o início”, avisou Trump na rede social Truth Social, acrescentando que não permitirá que “o Governo colombiano viole as suas obrigações legais no que diz respeito à aceitação e ao regresso dos criminosos que forçaram a entrada nos Estados Unidos”.

Mas Petro reagiu e anunciou que vai avançar com reciprocidade nas taxas que Washington venha a impor, realçando que doravante Bogotá deixa de olhar para Norte.

Num texto carregado de referências históricas e culturais, publicado na rede social X, Petro afirmou que “não apertava a mão a esclavagistas brancos”, mas sim a “brancos libertários herdeiros de Lincoln e dos rapazes camponeses negros e brancos dos EUA".

“A Colômbia agora deixa de olhar para o Norte, olha para o mundo”, escreveu o presidente colombiano, antes de acrescentar: “O seu bloqueio não me assusta, porque a Colômbia, para além de ser o país da beleza, é o coração do mundo”.

Petro realçou que se Trump coloca o “fruto do trabalho humano” da Colômbia com 50% de taxas alfandegárias para entrar nos Estados Unidos, então fará o mesmo.

“Os produtos norte-americanos cujo preço subir dentro da economia nacional deverão ser substituídos por produção nacional e o Governo ajudará neste propósito”, escreveu o chefe de Estado colombiano.

É apenas a Colômbia a criticar as deportações dos EUA? 

Não. Também o Brasil condenou no dia de ontem o "desrespeito pelos direitos fundamentais" de 88 brasileiros deportados pelo novo Governo dos Estados Unidos, que foram algemados durante a viagem.

Num comunicado, o Ministério da Justiça do Brasil ordenou às autoridades norte-americanas que "retirem imediatamente as algemas" quando o avião que transportava os deportados aterrou em Manaus (norte), denunciando o "flagrante desrespeito pelos direitos fundamentais" dos seus cidadãos.

O Ministério recordou que a dignidade da pessoa humana é um princípio basilar da Constituição Federal e um dos pilares do Estado Democrático de Direito, dizendo que Brasília não está disponível para abdicar destes valores.

Quando tomou conhecimento da situação envolvendo a deportação de brasileiros que estavam nos Estados Unidos, o presidente brasileiro, Lula da Silva, ordenou que uma aeronave da Força Aérea brasileiro fosse destacada para transportar os cidadãos até ao seu destino final.

O avião tinha como destino final a cidade de Belo Horizonte, mas teve um problema técnico e teve de pernoitar em Manaus, inicialmente prevista como escala.

"Os brasileiros que chegaram algemados foram imediatamente libertados das algemas", referiram as autoridades policiais.

O que pode mudar com esta nova política de Trump?

O novo presidente dos Estados Unidos garantiu, na sua tomada de posse, que vai expulsar “milhões e milhões” de imigrantes ilegais.

Numa análise apresentada esta semana, a organização Centro Internacional para o Desenvolvimento de Políticas Migratórias conclui que a segunda presidência de Donald Trump terá um impacto global nas políticas migratórias de todo o mundo.

As promessas de reformas rigorosas para salvaguardar as fronteiras, aumentar as deportações e acabar com programas de proteção humanitária e de regularização de migrantes irregulares “pode desviar os fluxos migratórios dos Estados Unidos para a Europa e outras regiões” e “terá impacto no debate sobre a política migratória da Europa”, refere o estudo.

*Com agências