“O Hospital de Évora é talvez o hospital que teve sempre a consulta aberta e mostra o panorama real do país, porque nos outros hospitais, com a primeira consulta fechada, os números que têm nas listagens não são reais”, disse Carlos Oliveira que falava à agência Lusa a propósito do Dia Nacional e Europeu da Obesidade, que se assinala hoje.
Para Carlos Oliveira, apenas com consulta aberta se pode apurar quantas pessoas estão à espera para tratamento da obesidade. “Ao controlarem as entradas, a lista não é uma lista real”, frisou.
Segundo dados publicados no Portal da Saúde, os doentes do Hospital Espírito Santo de Évora tinham de esperar, em novembro de 2017, mais de dois anos (783 dias) pela primeira consulta de obesidade, quando o tempo máximo de resposta garantido (TMRG) para uma consulta normal é de 150 dias, e 44 dias para a primeira consulta prioritária (o TMRG é de 60 dias).
No Hospital Amadora-Sintra o tempo de espera para a primeira consulta é de 612 dias, no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, é de 213 dias, no Hospital da Senhora da Oliveira Guimarães é de 197 dias, e nos Hospitais da Universidade de Coimbra é de 172 dias.
Os tempos máximo de resposta garantidos são cumpridos no Hospital Santa Maria (68 dias para a primeira consulta e 18 dias para a prioritária), no Hospital Curry Cabral (130 dias/31 dias), ambos em Lisboa, e no Hospital São Bernardo, em Setúbal (52 dias).
Carlos Oliveira adiantou que as consultas estão a ser feitas, mas “o problema é que só deixam entrar em função das [pessoas] que saem em cirurgia”.
“Um hospital este ano fez por exemplo 60 cirurgias, o ano passado tinha uma lista de espera, este ano tem a mesma lista de espera, alguma coisa não está bem”, observou, salientando que, “se deixassem entrar todas as pessoas que se querem inscrever, as listas eram substancialmente superiores”.
O presidente da Adexo Contou ainda que está a acompanhar a situação de uma utente da Nazaré que foi submetida a uma cirurgia há 14 anos e que precisa de ser avaliada no hospital onde foi operada.
O que se passa é que “o hospital pura e simplesmente não marca consulta” devido “ao controlo de entrada que está a ser feito pelos hospitais para não terem grandes números de listas de espera”, sublinhou.
Contactado pela Lusa, o bastonário da Ordem dos Médicos disse não ter “conhecimento direto” desta situação, mas observou que há problemas na gestão das listas de espera para primeira consulta hospitalar e para cirurgia programada, no que respeita ao cumprimento dos TMRG definidos pelo Governo, que podem também envolver a obesidade.
Mas, aconselhou Miguel Guimarães, se existem “suspeitas fundamentadas” de que “doentes estão a ser atrasados propositadamente a nível de primeiras consultas da especialidade da área da obesidade ou a nível das cirurgias, a situação deve ser auditada pelas entidades inspetivas”.
Esta situação é motivo para que “se faça uma auditoria, porque a obesidade é uma questão importante”, disse.
Também os doentes que sentem que “a sua posição está a ser colocada em risco devem denunciar a situação” à Ordem dos Médicos, ao Ministério da Saúde, para tentar perceber o que está a acontecer.
“Eu acredito que haja falhas, porque falhas existem e nós sabemos que neste momento a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde está reduzida”, frisou Miguel Guimarães.
O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) disse, por seu turno, não ter conhecimento desta situação, salientando que as normas de inscrição para o programa do tratamento cirúrgico da obesidade são “muito claras”, obedecendo a critérios “bastante exigentes”, para que “não exista quaisquer situações anómalas” durante os tratamentos.
“Temos a noção que os tempos de espera estão longe de ser os mais adequados para a patologia em causa e naturalmente tem de ser feito um esforço para encurtar esses prazos de forma a que o tratamento da obesidade possa ser garantido em tempo útil”, defendeu Alexandre Lourenço.
Mas “não é só para o tratamento cirúrgico que existem várias limitações”, mas para “o tratamento da obesidade como um todo”, em que é necessário fazer um trabalho extenso e de consideração de áreas não médicas, com a contratação de nutricionistas e outros técnicos de saúde.
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