Em nota do Palácio do Planalto, Dilma anunciou que "repudia com veemência e indignação a tentativa de envolvimento do seu nome na iniciativa pessoal do ministro Aloízio Mercadante", denunciado por Delcídio do Amaral por oferecer apoio político e financeiro para que não cedesse à colaboração.
O ex-senador entregou provas na Procuradoria Geral da República que acusam o ministro da Educação de tentar interferir na sua delação premiada - quando o réu fornece informações importantes sobre o processo em causa, como forma de aliviar a pena. Delcídio do Amaral disse ainda que o ministro agiu em nome da Presidente da República. As informações reveladas indicam que o ministro da Educação tentou convencer um dos assessores de Delcídio para que o ex-senador não revelasse mais informações ao juiz, prometendo fazer lobby junto do Supremo Tribunal Federal, de forma a conseguir a libertação de Delcídio.
O ex-senador do PT Delcídio do Amaral, preso em novembro, não aceitou a proposta de Mercadante e resolveu denunciar a participação de Lula, através de pressões várias, nos casos de corrupção "Lava Jato" e "Mensalão". Delcídio disse ainda que Dilma Rousseff sabia do esquema de superfaturamento na Petrobras e que interferiu nas investigações da "Lava Jato", levando ao encerramento de duas comissões parlamentares de inquérito (CPI).
"Essa delação tem um peso muito grande, porque Amaral sempre foi um homem forte do governo e de confiança da presidenta. A saída que o PT planeava, incluindo a entrada de Lula num ministério, é ainda mais difícil agora", comentou o analista Ivar Hartmann, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O ministro da Educação do Brasil negou ter comprado o silêncio do senador do Partido dos Trabalhadores (PT) Delcídio do Amaral, apenas tentou ajudá-lo, aconselhando-o a falar com consultores do Senado.
Lula em Brasília para tentar "salvar" Dilma e projeto do PT
Alvo de investigações por suspeita de corrupção, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode entrar no governo para tentar salvar a sucessora, Dilma Rousseff, e um projeto político desgastado por escândalos e por uma profunda recessão. O ex-líder sindical já está em Brasília para discutir esta possibilidade.
Dilma é ameaçada por um processo de impeachment (destituição do cargo) por suposta adulteração de contas públicas, as chamadas "pedaladas fiscais", enquanto Lula é investigado por alegado favorecimento de empresas de construção civil, citadas no grande caso de corrupção na Petrobras - o maior já investigado no Brasil.
"Há um desejo público da bancada do PT e de vários líderes aliados de que Lula seja ministro, mas é uma decisão que cabe a ele tomar entre hoje e amanhã", afirmou o deputado José Guimarães (PT-CE), líder do partido na Câmara.
Dilma fez pessoalmente a oferta ao seu mentor e antecessor, que governou o país entre 2003 e 2010, quando o Brasil era citado como exemplo no mundo emergente pelo crescimento económico e pelos programas sociais, entre eles o Bolsa Família. Um deputado e dois assessores do Partido dos Trabalhadores (PT) afirmaram que a manobra visa a "apagar o incêndio", alimentado por um protesto que levou, no domingo passado, mais de três milhões de pessoas a pedir nas ruas a saída da presidente - protesto reforçado pelas revelações do esquema de suborno montado na Petrobras para financiar partidos políticos.
Salvar o projeto, não a pele
Lula poderia assumir a secretaria de Governo, a chefia do gabinete, ou até trabalhar de fora da estrutura governamental como um mediador junto a aliados do PT para bloquear o impeachment, disse à AFP fonte do governo, que pediu para não ser identificada. A fonte assegurou que a manobra não tem como objetivo proteger o ex-presidente com foro privilegiado diante das investigações da justiça. Trata-se, segundo a fonte, de "salvar o projeto" do PT, que tirou 30 milhões de pessoas da pobreza. "De todos os modos, se (Lula) for ministro, terá que responder à Procuradoria Geral da República", indicou.
Mas nem todos concordam com essa interpretação. "Minha impressão é que o jogo agora é pela liberdade de Lula", resumiu o analista Everaldo Moraes, da Universidade de Brasília (UnB), consultado pela AFP. "Tanto ele quanto Dilma vão aparecer ligados à mesma coisa, e acho que a sua chegada ao governo poderia, inclusive, acelerar o processo de impeachment", completou.
Às portas do impeachment
Eleita em 2010 e reeleita em 2014, Dilma é alvo da indignação popular, pautada por uma recessão que pode levar o país ao pior ciclo económico do século e pelo lamaçal de corrupção que respinga na elite política e empresarial brasileira.
O principal aliado do PT, o centrista PMDB, ao qual pertence o vice-presidente, Michel Temer, estuda abandonar a coligação do governo. No último sábado, na Convenção Nacional, o partido estabeleceu um prazo de 30 dias para anunciar a decisão. Caso se confirme, a iniciativa poderia deixar Dilma às portas do impeachment.
O Supremo Tribunal poderia destravar o processo de destituição da presidente esta semana, definindo o formato e habilitando a Câmara dos Deputados a instalar a comissão que o encaminhará ao plenário. Caso seja aceite, uma maioria de dois terços (342) dos 513 deputados federais terá de decidir numa única votação se inicia o julgamento político de Dilma. Se não conseguir 172 votos, Dilma será a segunda chefe de Estado alvo de processo de destituição desde o retorno da democracia no Brasil (1985), depois que o ex-presidente Fernando Collor de Melo renunciou nas vésperas de ser destituído, em 1992.
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