Uma dádiva de sangue pode ajudar a salvar várias vidas e leva em média apenas 30 minutos.

Podem doar sangue todas as pessoas com bom estado de saúde, com hábitos de vida saudáveis, peso igual ou superior a 50 quilos e idade entre os 18 e os 65 anos. Para uma primeira dádiva, o limite de idade é 60 anos.

Incentivos, mais profissionais de saúde e mais dádivas

A Federação Portuguesa de Dadores Benévolos de Sangue (FEPODABES) quer que o Governo crie novos incentivos para os dadores de sangue e disponibilize mais profissionais de saúde para responder às solicitações de colheitas, disse hoje o presidente.

Direitos e deveres dos dadores de sangue

Todas as pessoas podem dar sangue?

Todas as pessoas que tenham mais de 18 anos de idade (ou 17 anos mediante consentimento dos pais); 50kg de peso e estilos e hábitos de vida saudáveis. Antes da dádiva de sangue é realizada uma avaliação clínica (triagem) por um profissional de saúde qualificado para avaliar o risco. Se não forem identificadas situações que possam pôr em causa a sua segurança, enquanto dador, e a segurança do receptor, enquanto doente, poderá dar sangue.

Estou a tomar medicamentos. Posso dar sangue?

Depende. Há medicamentos que podem levar à suspensão temporária ou definitiva da possibilidade de dar sangue. Receitados pelo médico ou não, o nome dos medicamentos devem ser comunicados ao profissional de saúde.

Tive anemia. Posso dar sangue?

Deve consultar um profissional de saúde. A causa da anemia deve ser avaliada e confirmada a normalização do valor da hemoglobina. É aconselhável a avaliação das reservas de ferro após a terapêutica.

A obesidade é impeditiva para dar sangue?

A obesidade por si só não contra-indica a dádiva de sangue, desde que não esteja associada a doenças crónicas como diabetes, hipertensão ou doenças cardiovasculares, entre outras.

Fumo "um charro" de vez em quando. Posso dar sangue?

O consumo de droga requer uma avaliação clínica pelo profissional de saúde qualificado sobre a frequência do consumo e a forma de administração, pelo que deverá sempre referir esta situação no âmbito da triagem cínica.

Posso transmitir COVID-19 ao dar sangue?

Não há evidência científica de que a COVID-19 seja transmitida pela transfusão, podendo contudo haver um risco teórico de transmissibilidade. Os serviços de sangue têm implementados critérios de elegibilidade para os dadores de sangue face a contactos de risco ou de doença COVID-19. Está também implementado um procedimento de vigilância, a informação pós dádiva, através do qual os dadores são informados de que devem contactar o serviço de sangue após a dádiva em caso de doença nos sete dias seguintes à dádiva.

Tive um aborto/interrupção da gravidez. Poderei dar sangue?

Uma interrupção de gravidez tem associado um período de suspensão de seis meses.

Tive epilepsia. Posso ser dador de sangue?

A epilepsia contra-indica a dádiva de sangue. Se convulsão durante a infância, ou decorridos pelo menos três anos desde a última data em que a pessoa candidata à dádiva tomou medicação anticonvulsiva e sem recidiva de convulsões, poderá candidatar-se à dádiva de sangue.

Tenho uma tatuagem. Posso dar sangue?

Pode candidatar-se à dádiva de sangue quatro meses depois da realização da tatuagem. As pinturas, stencilling e uso de transfers não contra-indicam a dádiva de sangue. A mesma coisa em relação à colocação de piercings.

Tenho mais de 65 anos de idade. Posso dar sangue?

As pessoas com mais de 65 anos poderão candidatar-se à dádiva de sangue sendo a sua elegibilidade para a dádiva um critério do médico do serviço de sangue.

Tenho fibromialgia. Posso dar sangue?

A fibromialgia é uma síndroma dolorosa não inflamatória caracterizada por dores musculares difusas, fadiga, parestesias e distúrbios do sono. Se a medicação não contra-indicar a dádiva de sangue, e se a pessoa se sentir bem, poderá candidatar-se à dádiva de sangue.

Deixam-me dar sangue se tiver a tensão elevada?

A tensão arterial elevada é um factor de risco para a doença cardiovascular e a existência de doença pode condicionar a resposta do coração à dádiva de sangue. As pessoas hipertensas podem ser admitidas desde que não estejam em estudo e apresentem uma hipertensão controlada (sem compromisso cardíaco, renal e patologia arterial periférica). A medicação com anti-hipertensores não é impeditiva, desde que a pessoa candidata à dádiva de sangue cumpra os requisitos recomendados.

E se for diabético?

As pessoas com diabetes tipo 1 não podem dar sangue. As pessoas com diabetes tipo 2 poderão candidatar-se à dádiva de sangue, se apresentarem: controlo glicémico adequado com dieta; medicação oral ou medicação injetável, que não a insulina; sem alteração do tipo e da dosagem dos antidiabéticos (orais e injetáveis que não a insulina) nas últimas quatro semanas; sem antecedentes recentes de hipotensão postural ou tonturas.

Será a minha profissão de risco? Posso dar sangue?

A exposição a eventos ou situações que aumentem o risco de aquisição de doença infecciosa pode ocorrer em qualquer altura da vida. A procura de informação pelo profissional de saúde qualificado sobre passatempos, profissão, actividades de jardinagem, contactos próximos com animais domésticos e selvagens são fundamentais na avaliação individual da exposição ao risco.

São necessários cuidados especiais após a dádiva?

Na dádiva são colhidos aproximadamente 450 ml de sangue (+/- 10%). A reposição das proteínas e células sanguíneas é efetuada pelo organismo. O reforço de ingestão de líquidos (água) antes e depois da dádiva é muito importante para que a reposição do volume. Poderá voltar à sua ocupação normal, contudo, estão identificadas algumas actividades que requerem uma atenção particular: paraquedistas, condutores de transportes públicos e veículos pesados, mergulhadores, escaladores, trabalhadores em andaimes e instalações eléctricas e mineiros devem aguardar um período mínimo de 12 horas para reiniciar a actividade; pilotos de aviação devem aguardar entre 24 e 72 horas para reiniciar a actividade. Aconselha-se o repouso de seis horas após a dádiva antes de uma viagem superior a 100 Km a conduzir.

Recebi uma transfusão. Posso dar sangue?

Se recebeu uma transfusão de sangue após 1980 não se pode candidatar à dádiva de sangue. A implementação deste critério de suspensão surge na sequência do risco de transmissão secundária de uma variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob (vCJD), também designada por doença das vacas loucas, por transfusão. Se recebeu uma transfusão antes de 1980 poderá candidatar-se à dádiva de sangue.

Quando sou considerado "Pessoa Dadora de sangue"?

Pessoa dadora de sangue é toda a pessoa que depois de aceite clinicamente doa, benevolamente e de forma voluntária, parte do seu sangue para fins terapêuticos. À pessoa dadora de sangue é atribuído um Cartão Nacional de Pessoa dadora de sangue após a realização da primeira dádiva efetiva de sangue. O Cartão Nacional de Dador não é emitido a pedido da Pessoa Dadora, mas sim do serviço responsável pela colheita de sangue.

Quais os meus direitos enquanto Pessoa Dadora de sangue?

A pessoa que dá sangue tem direito à salvaguarda da sua integridade física e mental; à informação sobre todos os aspetos relevantes relacionados com a dádiva de sangue; à confidencialidade dos dados; ao reconhecimento público; a não ser objecto de discriminação; à isenção das taxas moderadoras no acesso à prestação de cuidados de saúde do Serviço Nacional de Saúde (SNS), nos termos da legislação em vigor; ao seguro do dador; à acessibilidade gratuita ao estacionamento nos estabelecimentos do SNS, aquando da dádiva de sangue e a ausentar-se das suas atividades profissionais pelo período de tempo necessário para a dádiva de sangue.

Em declarações à agência Lusa, Alberto Mota apelou à sociedade para que mais pessoas se tornem dadores regulares e deixou pedidos à tutela.

“É muito importante que as pessoas se tornem dadores regulares, isto é, que os homens, de três em três meses, façam a sua dádiva e as mulheres de quatro em quatro meses (…). São necessários mais profissionais de saúde para fazer as colheitas”, referiu o presidente da FEPODABES.

Contando que a federação tem conhecimento de que têm acontecido “cancelamentos por falta de pessoal”, Alberto Mota defendeu que uma das soluções pode passar pelo alargamento do funcionamento das Unidades Locais de Saúde (ULS).

“Há ULS que podem muito bem ajudar o IPST [Instituto Português do Sangue e da Transplantação] a fazer recolhas de sangue no exterior”, considerou.

Para garantir que Portugal tem uma reserva nacional “sempre com níveis satisfatórios”, o responsável entendeu ser “fundamental” que o Governo “passe as medidas do papel à prática”, valorizando os voluntários das associações, grupos e núcleos de dadores de sangue, assim como regulamente “melhor” o Estatuto do Dador.

Além de mais profissionais de saúde nos Centros de Sangue e da Transplantação (Porto, Coimbra e Lisboa), a FEPODABES pede ao Governo que avalie a possibilidade de serem abertos mais centros de colheitas de sangue de forma a “ir ao encontro de todas as pessoas saudáveis que possam dar sangue”.

“Essa valorização deve incluir a criação do Conselho Consultivo do Sangue onde os dadores de sangue e suas associações, através da federação tenham lugar na discussão e informação sobre a dádiva de sangue”, afirmou Alberto Mota.

Este ano o Dia Nacional do Dador de Sangue tem como tema “A importância da Diversidade na Dádiva de Sangue”.

A FEPODABES salienta “o papel fundamental dos dadores de sangue que têm estado sempre presentes para colmatar as 1.000 a 1.100 unidades de sangue necessárias todos os dias”.

“Hoje temos uma reserva muito estável com cerca de 10.000 unidades de sangue guardadas, mas não podemos descansar. Temos de continuar a apelar, a apelar, apelar sempre”, concluiu o presidente da FEPODABES.

Este é também o apelo do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto que, em informação enviada à Lusa, soma ao pedido de doações regulares, o apelo à dádiva regular de plaquetas.

O consumo de plaquetas em hospitais oncológicos é muito elevado. Quem tem patologia hematológica como leucemia ou linfoma necessita de grandes quantidades de plaquetas para fazer face a hemorragias e coagulação, ou problemas de plaquetas baixas.

“A fidelização dos dadores ao IPO Porto através de colheitas regulares permite garantir um ‘stock’ de componentes adequado às necessidades dos nossos doentes. A transfusão de componentes sanguíneos é uma terapêutica de suporte indispensável no tratamento do doente oncológico (quimioterapia, radioterapia, transplante de medula óssea) e permite a realização da grande cirurgia oncológica em segurança”, explicou a diretora do serviço de Imunoterapia do IPO do Porto, Maria Rosales, citada na informação remetida à Lusa.

Em 2024, o IPO do Porto registou 8.799 dádivas, menos 126 do que no ano transato, das quais 1.889 foram de componentes plaquetários por aférese e 6.910 de sangue total.

Mais de 1.808 dadores efetuaram duas ou mais dádivas no IPO do Porto nesse ano. Houve 1.363 dadores que efetuaram a sua primeira dádiva na instituição, sendo que para 678 foi a primeira dádiva efetiva.

Em 2024 foram transfundidos mais de 2.634 doentes, correspondendo a 7.179 transfusões de eritrócitos e 4.708 transfusões de plaquetas.