Tudo começou na tarde de terça-feira, quando o tenente das Forças Armadas da Bolívia Roberto Juan de Dios Ortiz perdeu o avião em que deveria ter transportado a medalha de ouro e diamantes até à cidade de Cochabamba, para que na quarta-feira pudesse ser usada numa cerimónia oficial pelo Presidente do país, Evo Morales.

O militar, que trabalha para o Palácio do Governo da Bolívia, decidiu passar ao fim do dia por uma zona de prostíbulos, perto de aeroporto de El Alto, uma cidade vizinha de La Paz, para fazer tempo até ao voo seguinte.

“Entrei em vários locais, juntando-me a damas de companhia em duas oportunidades”, reconheceu o tenente na sua declaração perante a polícia.

Para seu azar, uns delinquentes, de acordo com a polícia boliviana, roubaram-lhe do carro, que deixou estacionado frente aos prostíbulos, a mochila onde levava a medalha e a faixa presidenciais que devia escoltar.

O tenente denunciou o roubo na esquadra e ali ficou detido, acusado de incumprimento do dever.

A presidente da Associação de Trabalhadoras Noturnas de El Alto, Lili Cortés, disse à agência Efe que o militar “estava embriagado” ao entrar em vários bordéis e ao aperceber-se do roubo “trouxe todos os polícias” de uma esquadra próxima para inspecionar um dos prostíbulos em busca da joia.

“Havia ordens do Presidente”, terá dito o consternado tenente, segundo relatou a 'madame' das meretrizes.

A polícia boliviana organizou um significativo destacamento para recuperar os símbolos presidenciais, até que, ao meio-dia de quarta-feira, uma chamada anónima para um canal de televisão da Bolívia avisou que a jóia tinha sido deixada à porta da igreja central de San Pedro, em Laz Paz.

As autoridades bolivianas asseguram saber quem são os responsáveis, supostamente um grupo de delinquentes que procuravam outros objetos bem diferentes, como computadores, para vender no mercado negro, e não contavam ter em mãos semelhante jóia.

O ministro do Interior da Bolívia, Carlos Romero, anunciou aos meios de comunicação social a detenção de um deles, um peruano, estando a polícia a procurar os restantes, possivelmente três.

“Terem entregue a joia não significa que vão ficar impunes”, advertiu o coronel Jhonny Aguilera, da polícia boliviana, numa conferência de imprensa, ávidos do desenlace da história.

O Presidente Evo Morales não pôde usar a medalha nem a faixa no dia das Forças Armadas bolivianas em Cochabamba, mas os símbolos presidenciais podem regressar, sem danos sofridos, à câmara de segurança onde os guarda o Banco Central da Bolívia.

O ministro da Defesa do país anunciou, em comunicado, uma investigação militar, já que o Exército está encarregue de guardar estes símbolos nacionais nos transportes para os atos oficiais em que o chefe de Estado os use.

A medalha é considerada uma joia única na América, comparada a uma coroa real ou à tiara papal pela Sociedade de Investigação Histórica de Potosí (Bolívia), para a qual “o valor monetário desta peça é incalculável”.

Símon Bolívar, símbolo da liberdade na América Latina, e a quem foi oferecida a medalha em 1825 pela independência da Bolívia, dificilmente poderia imaginar que quase dois séculos depois esta acabaria roubada à porta de um bordel e recuperada à porta de uma igreja.