Mais de quatro mil professores, desde o pré-escolar ao secundário, responderam a um inquérito da Fenprof, que mostra haver milhares de alunos, durante o encerramento das escolas devido ao agravamento da pandemia de covid-19, que estão a ter aulas em frente a um ecrã que duram o mesmo tempo do que quando estavam em frente ao professor.
“Trinta e quatro por cento dos docentes, ou seja, um terço do total, afirmam que as sessões síncronas são de duração igual às aulas presenciais, o que é completamente desajustado, contrariando as recomendações divulgadas”, sublinha a Fenprof.
Vários especialistas têm alertado para o facto de o tempo de atenção dos alunos ser muito inferior quando estão a ter aulas ‘online’, sendo que a capacidade de concentração vai aumentando com a idade.
Olhando para o horário de aulas dos alunos, que foi desenhado para o ensino presencial, metade dos docentes dizem que pelo menos metade das aulas é síncrona. Ou seja, na maior parte do dia estão em aulas ‘online’, sendo uma minoria o tempo dedicado ao trabalho autónomo.
Antes do arranque do ensino à distância, que começou há uma semana, o Ministério da Educação enviou uma nota para as escolas pedindo “equilíbrio” entre o número de horas de aulas ’online’ e assíncronas.
Na semana passada, alguns diretores alertaram para o facto de existirem escolas em que os alunos mantinham o mesmo horário que tinha sido decalcado do tempo do ensino presencial.
Há ainda um grupo de professores – um em cada quatro dos que responderam ao inquérito — que diz continuar a ir diariamente para as escolas dar aulas.
Alguns destes docentes têm alunos nos estabelecimentos de ensino: uns são crianças com necessidades educativas, outros são alunos sinalizados pelas comissões de proteção de menores ou então crianças que em casa não têm condições para ter aulas.
“Apenas 2% dos professores com alunos nas escolas - 27% do total de docentes – dizem manter-se em ensino presencial (que é ilegal!), sendo as suas aulas visionadas pelos alunos que estão em casa”, alerta ainda a Fenprof no comunicado enviado hoje para as redações.
A Fenprof pede a intervenção das autoridades, tais como inspeções por parte da Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC) “para regularizar situações pedagogicamente incorretas”.
Em causa estão “aulas em regime de ensino a distância com sessões síncronas com a duração das aulas presenciais, ou o exercício de atividade letiva presencial, destinada a pequenos grupos de alunos, ou mesmo um aluno apenas, limitando-se a restante turma a visionar em casa essas aulas”.
O inquérito revela ainda que a maioria dos docentes (73%) está a dar aulas apenas a alunos que estão em casa.
Existem 10% que têm alunos que diariamente continuam a deslocar-se à escola porque têm necessidades educativas especiais (abrangidos por medidas adicionais) ou então por terem sido sinalizados pelas comissões de proteção de menores.
O inquérito mostra ainda que há outro grupo de alunos que continua a fazer diariamente a viagem casa/escola, mas neste caso o problema é a falta de condições em casa para acompanhar as aulas. Dos inquiridos, 8% dos docentes identificou casos destes entre as suas turmas.
Por último, 6% dos professores dizem ter estudantes que se encontram em escolas de acolhimento por serem filhos de trabalhadores de serviços essenciais.
O modelo de ensino dos alunos que continuam a ir à escola é semelhante ao dos seus colegas que estão em casa: assistem às mesmas lições através de um computador e, na sala de aula, têm um professor que pode dar apoio, tal como os seus colegas deverão ter um encarregado de educação em casa para os ajudar.
A Fenprof pede que a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) intervenha “em todas as situações que violem as normas de confinamento em vigor, designadamente em relação à obrigatoriedade de teletrabalho”.
Os professores pedem ainda que a preparação do regresso ao ensino presencial passe por um processo negocial com vista a estabelecer as normas de prevenção e segurança sanitária.
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