No encerramento do "Encontro Ciência 2020", em que interveio por videoconferência, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que neste quadro de pandemia de covid-19, "da ótica dos destinatários da comunicação, nem sempre foi clara a delimitação de fronteiras entre o papel dos cientistas e o papel dos políticos".
O chefe de Estado afirmou que "os cientistas, naturalmente, foram chamados a formular propostas e sugestões para decisão política" e que "os políticos algumas vezes se socorreram dos cientistas para abonarem as suas decisões ou para justificarem 'a posteriori' atuações ou omissões"
"Este é um problema sensível, que é um problema não apenas de ética, mas também de compreensão do relacionamento, em momentos críticos como está a ser esta pandemia, entre quem decide politicamente, quem estuda e aconselha cientificamente. É um problema este recorrente, é um problema muito complexo nas suas vertentes, e é um problema tanto mais complexo quanto as solicitações forem diárias, semanais, mensais, ao longo de um período indeterminado de tempo", acrescentou.
Marcelo Rebelo de Sousa apontou "o tratamento pela comunicação social" dos discursos científico e político como "uma terceira realidade", e alertou que "a junção das três realidades ao longo da pandemia" provoca "problemas muito complexos".
Num discurso em que observou que "esta pandemia está a levar muito mais tempo do que se pensava, e é imprevisível a evolução" que irá ter, o Presidente da República advertiu depois para "momentos não racionais" que surgem nestas conjunturas.
"Durante uma pandemia, múltiplos momentos são essencialmente emocionais, para não dizer irracionais, e as perceções são emocionais - sobre dados científicos, sobre comunicações científicas, sobre decisões políticas, sobre fundamentações científicas de decisões políticas, e sobre o seu tratamento pela comunicação social", referiu.
"Vivemos hoje em diversas sociedades democráticas momentos de irracionalidade. E esses momentos não são fecundos para o avanço da ciência", reforçou.
Neste contexto, o chefe de Estado fez um apelo: "Que no nosso país, como na Europa, como um pouco por todas as democracias, possamos assistir, no presente e no futuro próximo, ao triunfo do multilateralismo, da abertura, do aprofundamento da mentalidade científica, da preocupação com a coesão social, com a afirmação da liberdade e com o primado da razão".
De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, "só há verdadeiramente avanço científico se houver numa sociedade abertura ao universal" e "o unilateralismo, o isolacionismo, o hipernacionalismo são a negação do espírito científico".
Na sua intervenção, o Presidente da República fez também uma chamada de atenção para a importância da coesão social, considerando que "o avanço científico é tanto maior quanto menores forem as desigualdades sociais numa comunidade".
Este encontro foi promovido pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia em colaboração com a Ciência Viva e a Comissão de Educação, Ciência, Juventude e Desporto da Assembleia da República, com apoio institucional do Governo atravé
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