É essa a posição manifestada à Lusa por dirigentes que, nessa autarquia do distrito de Aveiro, representam unidades industriais como a Bosch Security Systems, a Kirchhoff Automotive Portugal e a Yazaki Saltano, opondo-se ao prolongamento da quarentena geográfica se essa mantiver a suspensão de toda a atividade económica local não afeta a bens de primeira-necessidade.
Em documento que diz representar "cerca de 800 pequenas, médias e grandes empresas" e "mais de 10.000 colaboradores", esses gestores "apelam a que o cerco acautele a atividade empresarial, uma vez que, com milhares de postos de trabalho em risco, os efeitos da pandemia de covid-19 poderão ser demolidores".
A mesma nota acrescenta que em causa está uma atividade que vem envolvendo "um volume de negócios estimado em 2,2 biliões de euros e maioritariamente destinado à exportação", pelo que receiam o agravamento das consequências que a paragem já faz notar há algumas semanas.
"Já lidando com o facto de alguns dos seus clientes procurarem outros fornecedores, estas empresas - de setores de atividade desde a madeira, o têxtil e o calçado até à metalomecânica, indústria automóvel, elétrica e eletrónica - preparam com ímpar responsabilidade o regresso dos seus trabalhadores em segurança", realça o documento.
Isso significa que, caso o Governo autorize a reativação da economia local, as empresas em causa estão aptas a adotar "medidas extraordinárias de proteção individual, higiene e limpeza, num hercúleo esforço de conjugação de saúde pública e direito ao trabalho".
O mesmo grupo tem ainda preparados outros procedimentos para reforço dessa segurança, entre os quais "o arranque gradual da laboração, a redução do horário de trabalho, o recurso inicial a trabalhadores residentes apenas no concelho de Ovar e, sempre que possível, a utilização de mecanismos de trabalho à distância".
Reconhecendo que esta "atual e extraordinária conjuntura" impõe "medidas excecionais", os gestores em questão comprometem-se assim a "manter e criar emprego, e a gerar riqueza tributável para manutenção do Estado Social", na consciência de que só em atividade conseguirão impulsionar "as sinergias que sustentam as inúmeras famílias do concelho".
O novo coronavírus responsável pela pandemia da covid-19 foi detetado na China em dezembro de 2019 e já infetou mais de 940.000 pessoas em todo o mundo, das quais mais de 47.000 morreram. Ainda nesse universo de doentes, cerca de 180.000 recuperaram.
A doença afeta agora sobretudo o continente europeu, onde se registam mais de 508.000 casos confirmados e de 34.500 mortos.
Em Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, o último balanço da Direção-Geral da Saúde indicava 9.034 infeções confirmadas. Desse universo de doentes, 209 morreram, 1.024 estão internados em hospitais, 68 recuperaram e os restantes convalescem em casa ou noutras instituições.
A 17 de março, o Governo declarou o estado de calamidade pública no concelho de Ovar, que a partir do dia seguinte ficou sujeito a cerco sanitário com controlo de fronteiras e suspensão de toda a atividade empresarial não afeta a bens de primeira necessidade. O concelho conta hoje, segundo dados da autarquia, com 343 infetados e 13 óbitos entre os seus 55.400 habitantes.
A 18 de março foi também decretado o estado de emergência para todo o país, o que entrou em vigor às 00:00 do dia 22, sendo que a Assembleia da República aprovou hoje o prolongamento dessa medida até ao dia 17 de abril.
Também os concelhos da ilha de São Miguel, no arquipélago dos Açores, estarão desde as 00:00 desta sexta-feira sujeitos a cerco sanitário.
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