Hugo Barros, gerente da empresa Canalizador Barros, do Porto, explicou à Lusa a estratégia para tentar sobreviver à crise associada ao novo coronavírus, uma entre várias na luta pela sobrevivência em que as microempresas se vêm envolvidas.
"Quando foi declarada a quarentena [estado de emergência] fechámos a empresa e agora só acorremos a emergências", contou sobre a fórmula encontrada numa empresa que, por ser de "prestação de serviços, não tem direito a apoio do Estado".
Garantindo que, ao nível da proteção individual “seguem tudo à risca", Hugo Barros informou que foi feito "um investimento inicial de 300 euros em material de segurança pessoal para os quatro funcionários".
Nas visitas em trabalho às habitações, o gerente da empresa confirmou "uma nova atitude dos clientes", que passaram do "estar sempre em cima a ver trabalhar", para "se limitarem a abrir a porta e a indicar o local da intervenção".
"Agora é tudo combinado e explicado pelo telefone e quando chegamos ao local é para trabalhar com distância social", relatou Hugo Barros, mencionando que, para sua segurança, "antes de começar a obra desinfetam o local".
Domingos Morais, gerente da empresa com o mesmo nome, de Gondomar, descreveu à Lusa ser a sua "maior dificuldade o facto de os fornecedores estarem fechados".
Trabalhando, basicamente, "com clientes particulares, condomínios e seguradoras", o canalizador garantiu não sentir "falta de trabalho".
De proteção individual contra o coronavírus, disse que usa "máscara e luvas", material que, acrescentou, compra "só à medida da necessidade".
Gerente da Pichelaria Antas, no Porto, Daniel Moreira viu a crise entrar-lhe pela porta dentro no início do março, revelando à Lusa que a quebra de trabalho "é de cerca de 70% em relação a fevereiro", numa empresa com quatro funcionários.
"Nós fazemos assistência ao domicílio e a diminuição de encomendas no caso de obras que tínhamos no interior de habitações foi enorme devido à desistência dos clientes", disse, admitindo que possa ter acontecido devido ao receio das pessoas em apanhar o vírus.
E se uma "boa faturação nos meses anteriores" permite a Daniel Moreira "aguentar março quase sem trabalhar", a repetição do cenário em abril "vai obrigar a pensar em parar", sendo que até este cenário acrescenta receios ao responsável.
"Sei que segundo as regras do 'lay-off' tradicional terei de esperar até ao final deste mês para poder avançar para esse cenário. Mesmo assim, não sei se me interessa, porque tenho de pagar o ordenado e só depois é que me é devolvido. Não é uma solução viável para quando o dinheiro deixar de existir", descreveu o canalizador.
A esperança, no imediato, está no "crédito que tem nos fornecedores" devido a terem "sempre comprado a pronto pagamento" e da "isenção de pagamento de impostos" decretada pelo Governo, no âmbito do programa de ajuda às empresas.
A "falta de material de segurança pessoal no mercado" e o seu "preço exorbitante" fizeram com que fique de fora das preocupações do gerente, que menciona o conselho da Direção-Geral da Saúde de que "só em caso de doença é que se deve usar máscara".
Contactado o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Metalomecânica e Metalúrgica do Norte, foi dito à Lusa não terem referências de como decorre a atividade de canalizadores na região do Porto assim que começaram as restrições.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 324 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 14.300 morreram.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Em Portugal, registaram-se 60 mortes, mais 17 do que na véspera (+39,5%), e 3.544 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, que identificou 549 novos casos em relação a quarta-feira (+18,3%).
Portugal encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de quinta-feira e até às 23:59 de 02 de abril.
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