É no meio daquela rua que o embaixador do Bangladesh em Portugal, Ruhul Alam Siddique, informa que há um grupo de pessoas da comunidade infetado com a covid-19.
“Até ao momento, temos 19 ou 20 pessoas [infetadas], mas há algumas que vivem no mesmo apartamento e há casos que não foram reportados. O número pode ser superior”, alertou.
De acordo com o diplomata, que falava durante uma ação de sensibilização, a maior parte dos infetados concentra-se no bairro da Mouraria, na freguesia de Santa Maria Maior, embora registe alguns casos na zona de Santa Apolónia.
“Há algumas pessoas em Santa Apolónia, mas a maior parte está aqui na área da rua do Benformoso”, referiu, indicando que foi divulgada informação em bengali sobre o novo coronavírus à comunidade local.
Na mesma iniciativa, esteve presente o líder da comunidade do Bangladesh em Lisboa, Rana Taslin Udin, e o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), que referiu que a autarquia dá apoio a mais de 100 residentes.
“Estamos a falar de mais de 100 pessoas que nós apoiamos da comunidade total que mora aqui, quer cidadãos do Bangladesh, quer cidadãos nacionais. Não é um problema de apenas uma comunidade, é um problema de todos”, exclamou.
Com várias pessoas nas varandas e nas portas dos estabelecimentos, o embaixador e o autarca comunicaram as informações de segurança - em português e em bengali – através de um microfone de uma carrinha.
Nas casas era visível a falha nas regras de distanciamento social, como na rua. As pessoas andavam todas amontoadas como se fosse um dia normal.
“Há pessoas que não têm habitação, em cada casa há quatro, cinco e seis pessoas juntas. Um quarto tem duas ou três pessoas juntas. Isto não bom para saúde”, apontou o líder da comunidade do Bangladesh em Lisboa, Rana Taslin Udin.
O responsável explicou também que há muita gente com problemas financeiros e não consegue pagar a renda da casa ou os bens alimentares.
“Todos dias, quatro ou cinco pessoas escrevem-me para resolver os problemas da renda da casa e pedir comida. Há muita gente com problemas financeiros por terem as lojas fechadas há vários meses”, contou.
À porta do seu estabelecimento, um imigrante bangladeshiano mostrou-se preocupado com o futuro, porque o negócio está parado devido ao estado de emergência.
“Não sabemos o que vai acontecer, como vamos superar. O negócio está um pouco parado e as pessoas não vêm cá muito. Não sabemos o que vai acontecer”, disse à agência Lusa Abdul Momin, funcionário de uma agência de viagens.
Do outro lado da rua, há um restaurante que serve comida de graça, em serviço ‘take away’, às pessoas mais carenciadas, todos os dias, entre as 09:00 e as 21:00.
“A comida é grátis para as pessoas pobres, para qualquer um. Não aceitamos dinheiro. Não precisamos de dinheiro. Isto é ajuda”, exclamaram Sariful Islam e Shahed Miah, quase em uníssono.
À agência Lusa, os dois bangladeshianos contaram que fecharam o restaurante em 18 de março.
Apontando várias lojas abertas na rua do Benformoso, um imigrante indiano aproveitou para afirmar que as pessoas não se têm preocupado com a covid-19 e têm relativizado a doença.
“As pessoas não querem saber, porque muitas lojas estão abertas e as pessoas pensam que podem ir às compras. As pessoas deviam de se preocupar. Nós temos de nos preocupar, isto é muito sério”, disse à Lusa Muhammed Ali.
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou cerca de 179 mil mortos e infetou mais de 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Mais de 583 mil doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 785 pessoas das 21.982 registadas como infetadas, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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