António Costa transmitiu esta mensagem na base militar de Besmayah, a cerca de 50 quilómetros de Bagdade, onde permaneceu quatro horas e se encontrou com os cerca de 30 elementos do 10º contingente português. Um contingente que no Iraque tem como missão prestar formação e treino à polícia federal e às forças militares do Governo iraquiano.
Tendo ao seu lado o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, num breve discurso, António Costa defendeu a tese de que Portugal, ao longo de nove séculos, "assegurou sempre a independência nacional projetando a sua capacidade de influência" no plano externo.
Por isso, segundo o líder do executivo, "é fundamental o papel desempenhado pelas Forças Armadas e pelo conjunto das forças de segurança nacionais em missões externas".
"Embora não haja qualquer ameaça direta em relação ao território nacional, Portugal está num mundo onde há várias ameaças globais e que são atualmente cada vez mais diversificadas. Antes as guerras faziam-se entre Estados, agora fazem-se entre Estados e grupos mais ou menos organizados", advogou, numa alusão indireta à atual conjuntura do Iraque.
Essas ameaças à segurança coletiva, de acordo com António Costa, "infiltram-se no continente africano ou podem estar na origem de uma explosão de uma bomba no centro de Londres ou de Nova Iorque".
"O combate a estas ameaças deve começar o mais próximo possível do ponto de origem dessas mesmas ameaças. Quero agradecer muito a vossa missão", disse, antes de desejar aos cerca de 30 militares portugueses "um bom Natal" no Iraque, um bom regresso a Portugal em abril próximo, quando terminarem a respetiva missão, e de referir que, em breve, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, visitará as forças nacionais presentes em território afegão.
No final desta breve cerimónia, que teve lugar já depois do almoço de Natal, António Costa recebeu do comandante Miguel Capelo uma placa com o símbolo do 10º contingente português na base de Besmayah, enquanto o chefe do Governo ofereceu relógios aos militares como presente de Natal.
Já em declarações à agência Lusa, antes de abandonar a base de Besmayah, o primeiro-ministro afirmou que a sua visita teve como objetivo "partilhar com as forças portuguesas destacadas no Iraque o espírito de Natal, deixando bem claro que não estão esquecidos em Portugal".
"Neste caso, em particular, trabalhamos em conjunto com as forças espanholas, numa altura em que a missão vai começar a evoluir e que já se prepara a chegada do próximo contingente" nacional, observou o líder do executivo, antes de salientar que, pela parte do Governo português, "haverá todo o apoio a estas missões".
"A presença das Forças Armadas portuguesas e também das forças de segurança nacionais nestas missões destacadas são da maior importância para afirmar a credibilidade externa do país e para termos uma participação ativa em organizações internacionais como as Nações Unidas ou a NATO, ou nas coligações que celebramos. É muito importante que o poder político dê um sinal inequívoco de apoio", defendeu.
Antes, o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, também numa breve intervenção, referiu que, "sistematicamente", ouve "elogios ao desempenho dos militares portugueses" em missões externas.
"Os militares portugueses têm uma enorme capacidade de interação, fator ao qual ainda juntam o seu elevado profissionalismo. Os nossos contingentes são sempre altamente apreciados pelo trabalho que fazem", sustentou o titular da pasta da Defesa, observando, neste contexto, que a missão do Iraque "não é exceção".
"Agradeço o vosso empenho muito especial, sobretudo nesta época de Natal em que todos queremos estar próximos dos nossos familiares", acrescentou João Gomes Cravinho.
Perante António Costa e o ministro da Defesa, o comandante Miguel Cadete apresentou alguns resultados da missão portuguesa no Iraque, que integra uma coligação internacional liderada pelos Estados Unidos.
O comandante disse então que, nos últimos dois meses, já passaram por ações de treino e formação 1528 elementos da polícia federal e de forças militares iraquianas, sendo-lhes ensinado como atuar em escoltas ou em combate.
Os formandos iraquianos aprendem também tiro, artilharia, uso de armas anticarro e algumas noções de engenharia, referiu Miguel Cadete, acrescentando que a área total para treino atinge os 300 quilómetros quadrados.
A comitiva do primeiro-ministro aterrou em Bagdade com cerca de uma hora e meia de atraso devido às más condições climatéricas. Logo que chegou, António Costa teve uma breve reunião, de cerca de 30 minutos, com uma delegação das autoridades iraquianas encabeçada pelo vice-primeiro-ministro Thamir Ghadhban.
O "vice" do executivo iraquiano manifestou a sua apreensão com o agravamento das tensões entre os Estados Unidos e o Irão, considerando que essa situação tem reflexos diretos no Iraque, agravando o clima de instabilidade.
Ainda no aeroporto internacional de Bagdade, António Costa conversou de forma informal com militares portugueses no serviço de apoio à embaixada dos Estados Unidos e do campo de Besmayah. Os militares portugueses traçaram então ao primeiro-ministro um panorama complexo do Iraque do presente, dizendo que desde o início deste mês já se registaram 130 mortos, entre militares de forças governamentais iraquianas e civis.
António Costa e João Gomes Cravinho partiram depois de helicóptero para a base de Besmayah, onde já chegaram com cerca de duas horas de atraso face ao programa inicialmente definido pelas autoridades portuguesas.
O 10º contingente nacional da operação internacional "Resolução Inerente" - uma coligação internacional liderada pelos Estados Unidos contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI) - integra 30 efetivos, incluindo três mulheres, provenientes de várias unidades da Brigada de Intervenção.
Esta coligação internacional liderada pelos Estados Unidos foi criada em 2014 e conta com cerca de 80 países membros e tem entre os seus objetivos "a capacitação das forças iraquianas", através do treino, do fornecimento de equipamento e aconselhamento.
Portugal participa na coligação desde maio de 2015, sendo a missão prorrogável até 2020. Desde 2015, já passaram pelo campo de Besmayah 190 militares portugueses, rendidos a cada seis meses.
(Notícia atualizada às 16h27)
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