Xi Jinping esteve primeiro num bairro a cerca de oito quilómetros da Cidade Proibida, e visitou depois um hospital de Pequim, onde participou numa videoconferência com funcionários de um hospital em Wuhan, cidade no epicentro do surto.
Tratou-se da segunda aparição pública de Xi no espaço de uma semana. A última foi em 05 de fevereiro, durante uma reunião com o primeiro-ministro do Camboja.
De resto, à medida que os danos provocados pelo surto do coronavírus aumentam, o homem forte do regime de Pequim praticamente desapareceu dos órgãos oficiais.
“Onde antes aparecia o nome de Xi Jinping, passou a estar ‘Comité Central'”, resume à agência Lusa um jornalista de um dos principais órgãos estatais da China.
Desde que ascendeu ao poder, em 2013, Xi tornou-se o núcleo da política chinesa, desmantelando o sistema de “liderança coletiva” cimentado pelos líderes chineses desde finais dos anos 1970. Sob a sua liderança, que após uma emenda constitucional em 2017 passou a ser vitalícia, o Partido Comunista da China declarou Xi líder “central”.
Na estação oficial CCTV, que até ao início do surto infalivelmente abria os noticiários com intervenções e imagens de Xi, ou no Diário do Povo, jornal oficial do partido cuja capa chegou a ser composta por 11 manchetes sobre o líder chinês, referências ao Presidente desapareceram.
Analistas consideram que a retirada ilustra o esforço de Xi Jinping para se isolar de um surto que está a causar grande descontentamento popular.
“Não há dúvida de que [Xi] mantém firme controlo sobre o poder”, explica o observador de política chinesa Rong Jian. “Mas ele sabe que a forma como o surto se alastrou e as suas consequências danificaram a legitimidade e a reputação” do poder político, aponta.
Victor Shih, investigador sobre política chinesa na Universidade da Califórnia considera que, “politicamente, [Xi Jinping] está a descobrir que o poder ditatorial total tem uma desvantagem”.
“Quando as coisas dão para o torto a responsabilidade recai sobre uma só pessoa”, nota.
O surto, que já matou 1.016 pessoas e infetou mais de 42 mil, foi inicialmente reportado no final do ano passado, quando as autoridades de Wuhan anunciaram 27 infetados com uma “doença misteriosa”, todos associados a um mercado de mariscos da cidade, e descartaram que a doença fosse transmissível entre seres humanos.
Durante semanas, o número de pacientes manteve-se inalterado e, em 20 de janeiro, dias antes de a China relatar os seus primeiros casos fora de Wuhan, já a Tailândia e o Japão tinham reportado infeções.
O Governo central optou então por colocar Wuhan e várias cidades próximas em quarentena de facto, com entradas e saída interditas.
Centenas de milhões de trabalhadores deveriam ter já regressado das suas terras natais após as férias do Ano Novo Lunar, que este ano calharam em 24 de janeiro, coincidindo com o início do surto, mas a rápida propagação do vírus levou as autoridades a prolongar o feriado nacional, ditando o encerramento de fábricas, restaurantes e retalhistas. As consequências são imprevisíveis para os empresários e trabalhadores da segunda maior economia do mundo.
Numa altura em que o povo chinês enfrenta um dos maiores desafios das últimas décadas, a ausência do seu líder forte parece estar a ser sentida.
No domingo à noite, um taxista em Pequim aumentava apressadamente o volume do rádio ao ouvir o nome de Xi Jinping. Foi falso alarme. Tratava-se da repetição de um anúncio feito há vários dias por Xi, a declarar o combate ao vírus como uma guerra do povo.
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