"A resposta do Governo chinês ao surto de coronavírus foi inicialmente atrasada ao ocultar informações do público, subnotificar casos de infeção, subestimar a gravidade da infeção e desconsiderar a probabilidade de transmissão entre humanos", afirmou a HRW em comunicado.

A organização não-governamental (ONG) garantiu que "as autoridades detiveram as pessoas por 'boatos', censuraram as discussões 'online' da epidemia, restringiram as reportagens dos 'media' e falharam em garantir acesso adequado aos cuidados médicos a pessoas com sintomas de vírus e outras pessoas com necessidades médicas".

"O surto de coronavírus exige uma resposta rápida e abrangente que respeite os direitos humanos", defendeu um investigador chinês da Human Rights Watch, Yaqiu Wang, sublinhando que "as autoridades devem reconhecer que a censura apenas alimenta a desconfiança pública".

A ONG lembrou que "o primeiro paciente com sintomas iniciais foi identificado em Wuhan em 01 de dezembro de 2019", que "quase um mês depois, em 31 de dezembro, as autoridades de Wuhan anunciaram que havia 27 casos de um tipo desconhecido de pneumonia e alertaram a Organização Mundial de Saúde", tendo sido identificado "o novo vírus, 2019-nCov, uma semana depois". E que "a primeira morte foi anunciada em 11 de janeiro", sendo que "em 29 de janeiro de 2019, casos de nCov foram relatados em 15 países".

"Desde meados de dezembro, o Governo chinês tenta controlar o fluxo de informações sobre a epidemia. Há considerável desinformação nas redes sociais chinesas e as autoridades têm razões legítimas para combater informações falsas que podem causar pânico público. Mas, em vez de refutar informações falsas e disseminar factos confiáveis, em alguns casos as autoridades parecem mais preocupadas em silenciar as críticas", pode ler-se na mesma nota da HRW.

Segundo a mesma organização, "a polícia chinesa deteve ou perseguiu pessoas por supostamente 'espalharem boatos' e descreve o caso de um médico de um hospital onde pacientes infetados estavam a ser tratados: "Em 30 de dezembro, enviou mensagens num grupo privado do WeChat [rede social], alertando-os sobre a doença desconhecida. As autoridades do hospital mais tarde avisaram-no para não 'espalhar boatos'", e a polícia forçou-o a assinar um documento em que se comprometia que ele interromperia atividades ilegais e cumpriria a lei.

A 12 de janeiro, "o médico foi internado por sintomas de pneumonia após o tratamento de pacientes e agora está em estado crítico", indicou a HRW, assegurando que, "nas últimas semanas, polícias de toda a China detiveram dezenas de pessoas pelas suas publicações 'online' relacionadas com o vírus".

Desde 23 de janeiro que as autoridades "impuseram restrições de viagens a Wuhan e cidades próximas, cercando efetivamente 56 milhões de pessoas", sublinha-se no comunicado em que se afirma que muitos habitantes expressaram dificuldades sobre o acesso a cuidados médicos.

A HRW deu um exemplo para ilustrar a informação: "Um homem disse no Weibo [rede social] que seu remédio contra o HIV [Vírus da Imunodeficiência Humana] estava a acabar, mas que não foi possível reabastecer-se (...). Procurou ajuda da polícia local" que, "em vez de o ajudar a obter o novo medicamento, informou os seus pais sobre a sua condição (...), que tinha escolhido manter em segredo".

A ONG recordou que "quando as quarentenas são impostas, os governos têm obrigações absolutas de garantir acesso a alimentos, água e assistência médica".

Contudo, lamentou, "depois de terem sido reportados os primeiros casos e antes da restrição de viajar para fora da cidade, cinco milhões de pessoas deixaram Wuhan, uma cidade de 11 milhões, segundo estatísticas do Governo, sugerindo que a quarentena foi arbitrária e potencialmente discriminatória".

Por fim, a HRW assegurou que em outras províncias chinesas verificaram-se casos de "discriminação e assédio contra residentes de Hubei".

"Houve inúmeros relatos de hotéis fora da província de Hubei", da qual Wuhan é a capital, que se recusaram a admitir viajantes com documentos de identificação daquela região e, por outro lado, algumas localidades montaram barreiras a bloquear a entrada de viaturas com matriculas de Hubei, pode ler-se na nota da organização não-governamental que termina com um apelo: "As autoridades locais fora da província de Hubei devem proibir a discriminação e o assédio contra pessoas de Hubei e garantir acesso igual a acolhimento e assistência médica".

A China elevou hoje para 170 mortos e mais de 7.700 infetados o balanço de vítimas do novo coronavírus detetado no final do ano em Wuhan, capital da província de Hubei (centro).

Um estudo genético, conduzido por cientistas chineses, confirmou que o novo coronavírus com origem na China terá sido transmitido aos humanos através de um animal selvagem, ainda desconhecido, que foi infetado por morcegos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) convocou para hoje o Comité de Emergência para determinar se este surto vírico deve ser declarado uma emergência de saúde pública internacional.