O tom do debate de política geral no parlamento subiu na segunda ronda: depois de várias intervenções do PS a criticar discursos passados do presidente do PSD, Rui Rio, foi a vez de os sociais-democratas atacarem o primeiro-ministro.
André Coelho Lima, vice-presidente do PSD, acusou Costa de ter feito “um ‘road show’ do PRR, e apontou vários compromissos que assumiu na recente campanha autárquica no distrito de Braga, pelo qual é deputado.
“Não considera que, com esta atuação de um autêntico circunforâneo [pessoa que vagueia de feira em feira], desqualifica a sua função e o próprio PRR? (…) Com este bodo aos eleitores, esta tentativa de viciar os votos do eleitor, o senhor primeiro-ministro desprestigiou a democracia e instituições democráticas”, acusou.
Na resposta, visivelmente irritado, António Costa considerou que “o que desqualifica a democracia é um deputado que se senta na primeira fila da sua bancada ter um tal nível de ignorância sobre o que é o PRR e os compromissos já inscritos na lei”.
“O senhor não me conhece de parte nenhuma e não o autorizo a fazer qualquer juízo moral sobre o meu comportamento, como não faço sobre o seu”, acrescentou, sob protestos e pateadas da bancada do PSD.
António Costa defendeu que, “antes de abrir a boca na Assembleia da República” ,Coelho Lima tinha obrigação de saber que existe uma lei aprovada relativa às transferências que são devidas aos municípios e que os compromissos a que aludiu na campanha “não são promessas”, estão “contratualizados, calendarizados” com a União Europeia.
“O senhor deputado devia ter-se dado ao trabalho de ler o PRR (…) O que é grave sabe o que é? Como senhor não sabe e como o seu partido não sabe, se este governo deixar de ser governo, o PRR ficava mesmo por executar porque os senhores são ineptos para executar aquilo que não conhecem”, acusou.
Perante as trocas de apartes e aplausos e apupos entre bancadas do PS e do PSD, o vice-presidente da Assembleia da República José Manuel Pureza, que presidia aos trabalhos, apelou a alguma calma.
“O debate pode ser vivo, deve ser vivo, mas devemos saber-nos ouvir”, apelou, antes de dar a palavra ao deputado do PSD que se seguia, Paulo Leitão.
O arranque da segunda ronda parecia uma continuação da primeira, com o deputado socialista João Paulo Correia a retomar as críticas já feitas pela sua bancada à intervenção com que Rui Rio justificou, no ano passado, o voto contra o Orçamento para 2021.
“A conclusão a que chegamos é que o OE 2021 tem sido um orçamento de combate à maior crise económica vivida nas últimas décadas. O Diabo não veio em 2021, conforme previa o dr. Rui Rio e o PSD”, afirmou o deputado socialista.
António Costa concordou, mas deixou um recado irónico, também dirigido ao líder do PSD.
“Não haja dúvida que, com a receita do PSD, a crise teria tido a natureza catastrófica que o dr. Rui Rio previa”, afirmou.
O líder do PSD, que se ia rindo na primeira fila da sua bancada a cada referência aos seus discursos passados, não utilizou a segunda ronda da sua bancada para responder às críticas, com o tempo do partido a ser dividido por quatro deputados que ‘cobraram’ promessas de António Costa.
Antes de André Coelho Lima, a deputada do PSD Filipa Roseta questionou Costa sobre políticas de habitação, acusando o primeiro-ministro de “andar a prometer o que não tem”.
“Está a dar a quem chega primeiro, já percebemos que vocês não perceberam nada do que aconteceu na altura da ‘troika’, temos um ex-primeiro-ministro em tribunal a responder por alegados subornos de um construtor”, criticou, numa alusão a José Sócrates.
“Ainda bem que Vossa Excelência percebeu tudo, tendo percebido tudo é muito mais grave, porque omitiu aquilo que percebeu”, respondeu Costa, detalhando os compromissos previstos em matéria de habitação antes e depois do PRR.
O deputado Paulo Leitão acusou o primeiro-ministro de ter “deixado no sapatinho” de Coimbra uma nova maternidade, salientando que este compromisso era de 2014, com Costa a reiterar que já foi transmitida toda a informação aos novos eleitos para a autarquia.
Já o deputado eleito por Faro Cristóvão Norte afirmou, “em nome do Algarve”, que nesta região os eleitores já não acreditam nos compromissos assumidos pelo primeiro-ministro, elencando alguns não cumpridos no passado.
“Se queremos saber em quem é que os algarvios acreditam, vá ver os resultados eleitorais nas eleições autárquicas””, respondeu Costa.
(Notícia atualizada às 18h37)
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