"Num momento em que se fala da necessidade de um melhor ordenamento do território, é também o momento, num ano de seca, para se pensar que é preciso novas regras para o ordenamento dos nossos recursos hídricos, porque Portugal precisa de água, tem de a proteger, tem de a saber usar", disse Catarina Martins.
A líder do BE falava aos jornalistas após ter visitado uma herdade no concelho de Beja, no Alentejo, onde uma empresa terá destruído vários sítios arqueológicos durante operações de movimentação de terras para plantação de um amendoal.
"Estamos a assistir a um ano de uma tremenda seca em Portugal, em quase todo o país a água falta" e, por isso, "precisamos de proteger a água que temos", nomeadamente "da poluição", e "está provado" que as monoculturas intensivas são "um perigo para as nossas águas", e "temos também de ser racionais na forma como a água é utilizada em Portugal", defendeu.
Segundo Catarina Martins, "as monoculturas intensivas têm sido a prática no Alentejo com o Alqueva, porque existe água, mas devem-nos levantar muitas questões".
"A água do Alqueva foi muita desejada pelo Alentejo pelas melhoras razões, porque é preciso água para haver agricultura, emprego, desenvolvimento, mas, de facto, o que estamos a assistir é que o terreno está todo a ser ocupado, nomeadamente o melhor terreno agrícola, por culturas intensivas", disse.
No entanto, frisou, as culturas intensivas "não criam emprego propriamente na região, não têm depois valor acrescentado, uma vez que o que é produzido aqui sai imediatamente antes da transformação e, portanto, não há aqui criação de valor, de emprego, e têm tido danos a vários níveis, ambientais desde logo".
Catarina Martins disse que na herdade que hoje visitou começou a ser feita, por uma empresa multinacional, uma plantação intensiva de amendoeiras sem "o mínimo respeito pela história" e "sem olhar a nenhuma regra, desde logo sem sequer olhar para o Plano Diretor Municipal de Beja", onde estavam identificados os sítios arqueológicos existentes na zona.
Por outro lado, os fertilizantes da plantação escorrem para uma ribeira ali perto e que "depois irá parar a uma barragem e, portanto, a todo o circuito da água", disse, alertando que há "um consumo da água que é feito sem o necessário controlo num ano em que há seca em Portugal"
No caso verificado na herdade, considerou, "há falhas várias" e "a primeira é achar que uma multinacional qualquer, quando chega ao país, pode fazer o que quiser sem olhar ao que será sustentável do ponto de vista dos terrenos, da água, do emprego" e "isto não poder ser aceitável".
Para a dirigente bloquista, o caso da herdade revela "uma enorme fragilidade do Estado", porque "quando se planta assim", destruindo vestígios arqueológicos e sem cumprir condições sobre a qualidade das águas e a natureza, "quer dizer que o Estado e os seus organismos não têm os recursos para estarem presentes onde é necessário".
"E isto é extraordinariamente preocupante", porque "o território tem de ser uma prioridade", a qual "exige que o Estado esteja presente e que vigie o que está a acontecer no nosso território, com a nossa agricultura, com os nossos solos, com a nossa água e também com o nosso património cultural", disse.
Questionada pelos jornalistas, a líder do BE voltou a desvalorizar o alegado clima de tensão vivido nos últimos dias entre o Presidente da República e o Governo.
"Num país que está a viver as condições que está, em que houve fogos que foram devastadores na maior parte do território, que está a braços com uma seca e falta de água, a ser preciso transportar água em camiões cisterna para tantos sítios do país, acho que mais importante do que eventuais mal entendidos entre partidos, governo, órgãos de soberania, é focar-nos nas questões do futuro e as questões do futuro são o ordenamento do território e a proteção dos nossos recursos hídricos", disse.
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