Nas alegações durante a fase de instrução, o advogado do ex-diretor de investigação criminal da Polícia Judiciária Militar (PJM) afirmou que o antigo ministro da Defesa Azeredo Lopes sabia “das investigações paralelas” daquela polícia ao furto do armamento dos paóis de Tancos e que estas foram ordenadas pelo arguido e diretor da PJM Luís Vieira.
“Relativamente aos militares envolvidos achamos que se justifica a ida a julgamento por denegação de justiça, porque existe matéria que o justifica. O major Vasco Brazão quer ir a julgamento porque quer assumir as suas responsabilidades”, afirmou o advogado Ricardo Sá Fernandes depois das alegações, no Tribunal de Monsanto, em Lisboa.
Para a defesa do ex-porta-voz da PJM, o ex-ministro Azeredo Lopes, também arguido no caso e Luís Vieira, “não estiveram à altura das suas responsabilidades neste processo”.
“Um orientou [Luis Vieira] as investigações e o outro [Azeredo Lopes] teve conhecimento. E não assumindo completamente essa intervenção, não estiveram à altura das suas responsabilidades”, considerou.
Segundo Ricardo Sá Fernandes, “a atuação da PJM foi feita sob a direção de Luís Vieira e, pelo menos na altura do achamento das armas, essa atuação foi do conhecimento de Azeredo Lopes”.
Contudo, ressalvou o advogado, “não significa que relativamente à responsabilidade criminal do ministro tenha emitido qualquer juízo”.
Durante o processo o elogio vai para a postura assumida pelo chefe de gabinete do ministro à altura dos factos, o tenente-general Martins Pereira que assumiu ter recebido um “memorando” sobre o que aconteceu em Tancos.
“Martins Pereira teve a hombridade de se lembrar [do memorando] e de trazer o papel e com isso fez a diferença neste processo e revelou um caráter que está à altura da sua carreira e da sua patente”, referiu o advogado, acrescentando que esta atitude levou Azeredo Lopes e Luís Vieira a alterarem as suas versões.
“A posição deles teve de ser adaptada aquele dado irrefutável sobre que é o da posição indiscutível do Major Brazão quando falou da conversa que tinha tido e o papel que tinha entregue era verdade entregou um papel memorando.
Nas suas alegações, o defensor de Vasco Brazão considerou que os crimes de associação criminosa e tráfico de armas imputados ao seu cliente foram “metidos no processo a martelo, são absurdos” e tecnicamente estão mal qualificados pelo Ministério Público (MP).
Quanto à acusação de favorecimento pessoal, o advogado considerou que este se baseia no depoimento do arguido João Paulino, alegadamente o mentor do furto segundo o MP, que considera ser “muito pouco credível”.
“As declarações de João Paulino valem zero, ele saberá em consciência porque escolheu o caminho de não se defender e vir aqui acusar pessoas que não conhece e com quem nunca falou sobre um pacto que nunca existiu”, referiu.
Reconhecendo que a PJM fez uma investigação paralela ao furto, ordenada pelo diretor Luís Vieira, o advogado diz que esta polícia foi “maltratada pelo MP e pela PJ”.
“Estes militares não são um bando de criminosos ou bandidos, são honrados e com carreiras brilhantes”, defendeu Ricardo Sá Fernandes, dando como explicação que os militares envolvidos sentiram o orgulho ferido por causa do furto e, diante a hipótese de conseguir desvendar o crime, ficaram “deslumbrados” e “arranjaram a solução ´manhosa´ da chamada anónima” feita de madrugada a contar onde estavam escondidas as armas.
Nove dos 23 arguidos do processo de Tancos estão acusados de planear e executar o furto do material militar dos paióis e os restantes 14, entre eles o antigo ministro da Defesa e os dois elementos da PJM, da encenação que esteve na base da recuperação do equipamento.
O caso do furto do armamento foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017 com a indicação de que ocorrera no dia anterior, tendo a alegada recuperação do material de guerra ocorrido na região da Chamusca, Santarém, em outubro de 2017, numa operação que envolveu a PJM, em colaboração com alguns elementos da GNR de Loulé também arguidos.
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