De acordo com várias cartas enviadas por tripulantes da Ryanair à Crewlink Portugal, a empresa de trabalho temporário que tem como único cliente a Ryanair, a que a Lusa teve acesso, as mesmas estão a ser devolvidas com as indicações de "Encerrado" e "Sem recetáculo postal" assinaladas pelo carteiro.
A Lusa constatou no local que o edifício, situado na rua Julião Quintinha, na freguesia de Benfica, em Lisboa, aparenta estar vazio, sendo ainda visíveis resquícios de ocupação pela GroundLink, uma empresa de operações em terra ('handling') que também prestou serviços à Ryanair ao longo dos últimos anos, cujas marcas do logótipo, na entrada, ainda são visíveis.
Em causa estão as rescisões por justa causa dos tripulantes da Ryanair (funcionários da Crewlink) que rejeitaram a integração nos quadros da companhia irlandesa com remunerações base abaixo do salário mínimo nacional.
Em caso de recusa da proposta da Ryanair, foram dados dois a três dias aos tripulantes para escolherem uma base da sua preferência no Reino Unido ou Irlanda para começarem a trabalhar em 01 de setembro mas, no caso de não terem escolhido nenhuma, a Crewlink escolheu uma com base nas suas necessidades operacionais.
Na quarta-feira, a Crewlink disse à Lusa que ofereceu aos trabalhadores "transferências para outras bases europeias para proteger os seus salários e continuação do emprego" estando "a fazer o melhor para manter as pessoas empregadas, em circunstâncias onde não há posições em Portugal".
O dirigente do Sindicato Nacional de Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) Diogo Dias disse à Lusa, em 12 de agosto, que "todos os tripulantes" que recusaram a proposta "estão a resolver com justa causa o contrato, depois desta transferência que lhes está a ser oferecida", adiantando que irão avançar "com um processo coletivo contra a empresa não só para a reintegração na empresa Ryanair", como também serão pedidos "os créditos laborais, como por exemplo o subsídio de Natal e o subsídio de férias".
Confrontado entretanto pela Lusa acerca da situação da devolução das cartas, o dirigente do SNPVAC acrescentou que tem conhecimento de "todas" as cartas enviadas para a Crewlink Portugal estarem a ser devolvidas, num total de 17, referentes a trabalhadores das bases de Ponta Delgada e Lisboa.
"Para já são 17, e agora contamos que cerca de 30 a 50 tripulantes no Porto possam também resolver o contrato por justa causa", afirmou o sindicalista à Lusa.
Diogo Dias acrescentou que as cartas estão a ser enviadas tanto para a Irlanda (onde estão a ser devidamente recebidas) como para Portugal devido a "algumas dificuldades em localizar e entregar cartas" no passado.
"Em Portugal, na morada que nos é fornecida, nunca lá vimos ninguém, não está lá ninguém, as cartas estão a vir todas para trás", referiu, aditando que as cartas foram enviadas para os dois sítios por uma questão de proteção laboral, "para os próprios tripulantes poderem notificar a empresa".
Diogo Dias afirmou ainda que os trabalhadores "não sabem responder" qual é a sua efetiva entidade empregadora: se a Ryanair, se a Crewlink Irlanda ou a Crewlink Portugal.
"Nós recebemos comunicação tanto da Ryanair, como da Crewlink. As comunicações que vêm da Crewlink são uma cópia das comunicações da Ryanair, e aqui também se vê que a empresa Crewlink não é, de todo, autónoma, e trabalha em função do que a empresa Ryanair quer", disse o vogal do SNPVAC à Lusa.
Em entrevista à Lusa, o diretor de Recursos Humanos da Ryanair, Darrell Hughes, disse na semana passada que a Crewlink não está associada à Ryanair, sendo apenas sua fornecedora de serviços.
O sindicalista acrescentou que ao longo dos anos os trabalhadores têm sido "notificados e recebido comunicações da empresa Ryanair, da empresa Crewlink Irlanda e da empresa Crewlink Portugal".
Acerca da morada da empresa portuguesa, Diogo Dias afirmou que "nada foi comunicado" acerca de uma possível mudança ou abandono de instalações.
Questionada pela Lusa, a Crewlink não se pronunciou acerca da morada da empresa em Portugal.
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