No discurso de abertura da assembleia plenária da CEP, que decorre até quinta-feira em Fátima, distrito de Santarém, Manuel Clemente recuou cem anos para dizer que “a 13 de maio de 1917 e nos meses seguintes nem a sociedade portuguesa, nem as notícias correntes, coincidiam sem mais com as prioridades propostas a Lúcia, Jacinta e Francisco”, os três pastorinhos de Fátima.
Assinalando que foi “num ambiente sociopolítico tão agitado, em pleno conflito mundial, com dificuldades grandes para o decurso normal da vida da Igreja aquém e além-fronteiras”, o cardeal-patriarca de Lisboa referiu-se à atualidade, onde “o cenário mundial é agitado, os problemas globais são muitos e o sentimento de perigo aumentou exponencialmente, quando se sabe ou julga saber de tudo e de toda a parte, rapidamente demais para ser discernido, situado e integrado”.
Segundo o presidente da CEP, que citou, por diversas vezes, a Carta Pastoral de dezembro de 2016 do episcopado português, intitulada “Fátima, sinal de esperança para o nosso tempo”, é “precisamente neste contexto” que se deve retomar Fátima e a sua mensagem, aliás tema único do discurso de Manuel Clemente hoje.
“Cem anos depois, o que começou com os pastorinhos foi-se tornando propriamente pastoral, como conteúdo e prática marcantes, uma marca de fundo que, mesmo quando desapercebida, acabou por tocar muita gente e moldar muita coisa, bem mais do que parece”, considerou o presidente da CEP, salientando que “muita gente foi percebendo, também a partir de Fátima, que os grandes desastres humanitários e pessoais têm raiz mais profunda e consequência mais duradoura do que aquilo que imediatamente parece”.
A este propósito adiantou: “Da visão do Inferno em que podemos cair – e as imagens com que os pastorinhos o viram não são assim tão diferentes das que os media hoje nos transmitem, a crianças e adultos, de repetidas destruições e carnificinas por esse mundo além – os videntes passaram ao Coração de Maria”, assinalando que se trata de um “caminho de conversão” e uma “mensagem de esperança”.
“Assim mesmo se entenderá a próxima visita do papa Francisco no presente momento mundial e eclesial, tornado verdadeiro peregrino da esperança”, realçou.
Referindo a Carta Pastoral sobre Fátima, Manuel Clemente sublinhou que a mensagem mostra “uma experiência universal e permanente, o confronto entre o bem e o mal que continua no coração de cada pessoa, nas relações sociais, no campo da política e da economia, no interior de cada país e à escala internacional”, sendo que cada um “é interpelado a corresponder ao chamamento de Deus”.
“E assim mesmo nos aproximaremos do que realmente atrai tantas pessoas a Fátima, individualmente ou em grupo, de Portugal ou do mundo inteiro. Necessidades e urgências de cada um e dos seus, certamente”, adiantou Manuel Clemente, que citou ainda a irmã Lúcia, para acrescentar que “quem acompanhe e realmente oiça tantas pessoas que passam por Fátima e que aqui vêm em peregrinação, não demorará em concordar com a vidente.
“Abriu-se em Fátima uma ‘porta salvadora, pela qual, ainda que estreita, se acede à Fonte que finalmente sacia. O mais importante de Fátima é o constante caudal de conversões que daqui corre, com inestimável benefício próprio e alheio”, afirmou o presidente da CEP.
Comentários