“Nós sujeitámo-nos a uma chantagem política perpétua […]. Pusemos um colete suicida na constituição britânica e entregámos o detonador a Michel Barnier [negociador da União Europeia para o Brexit]”, escreve Boris Johnson num artigo de opinião divulgado pelo Daily Mail.

Numa alusão à anuência de Theresa May sobre as exigências de Bruxelas, nomeadamente as que são relativas às fronteiras do Reino Unido, Boris Johnson lamenta que a chefe de Governo tenha cedido em vez de lutar para o Reino Unido conseguir um “gigantesco e generoso acordo de comércio livre”.

“Em todas as etapas das conversações, até agora, Bruxelas tem conseguido o que quer. Concordámos [Reino Unido] com o calendário da União Europeia, aceitámos entregar 39 mil milhões de libras [cerca de 44 mil milhões de euros] por nada em troca” e “estamos dispostos a aceitar as regras” sobre as fronteiras, enumera o antigo governante.

Para Boris Johnson, isto “é uma humilhação”, já que o Reino Unido parece um “insignificante” de 45 quilos “vergado perante um gorila de uma tonelada”.

Em julho passado, Boris Johnson, assim como o até então negociador britânico, Davis Davis, demitiram-se em desacordo com a forma como estão a decorrer as negociações para a concretização da saída do Reino Unido da União Europeia.

Boris Johnson foi substituído pelo anterior ministro da Saúde do Reino Unido, Jeremy Hunt.

A demissão de Boris Johnson aumentou a pressão sobre a primeira-ministra, Theresa May, alvo de críticas de alguns deputados a favor de um “divórcio” mais radical com a União Europeia.

Também vários deputados que apoiam o Brexit já se manifestaram insatisfeitos com o plano, mas, por enquanto, ainda não foi iniciado nenhum processo para forçar a demissão de Theresa May.

O comentário hoje divulgado gerou, contudo, polémica junto de alguns responsáveis políticos da ala conservadora, com ministro de Estado para a Europa no país, Alan Duncan, a condenar as palavras usadas por Boris Johnson.

Através da rede social Twitter, Alan Duncan argumentou que os comentários equivalem “a um dos momentos mais repugnantes da política britânica moderna” e deveriam ser “o fim político” do ex-ministro nos Negócios Estrangeiros.

Faltam menos de nove meses até que o Reino Unido efetue a saída da União Europeia em 29 de março de 2019, cujas negociações sobre os termos do divórcio e do relacionamento posterior estão num impasse.

As duas partes tinham indicado outubro como um prazo para chegar a um entendimento para que o acordo possa ser ratificado pelos diferentes parlamentos nacionais dos 27.

O Reino Unido vai deixar a União Europeia em 29 de março de 2019, dois anos após o lançamento oficial do processo de saída, e quase três anos após o referendo de 23 de junho de 2016 que viu 52% dos britânicos votarem a favor do Brexit.