
Após meses a ameaçar impor tarifas sobre todos os produtos importados pelos Estados Unidos, o presidente americano começa a ganhar algum bom senso e a adotar uma abordagem mais moderada nas suas políticas comerciais.
Até agora, as conversas com o Reino Unido e a China já avançaram algumas alterações à tabela inicial apresentada por Donald Trump. As alterações não são muitas, e ainda não há respostas relativamente à Europa.
Para Portugal, as tarifas terão um impacto especialmente danoso nas exportações de vinho e outros bens.
Reino Unido
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um acordo comercial com o Reino Unido, o primeiro desde o início da guerra comercial.
Trump aplicou taxas de 10% a todas as importações em abril, incluindo o Reino Unido, mas congelou temporariamente as mais altas para dezenas de países para dar margem às negociações.
Numa conversa telefónica no Salão Oval da Casa Branca com o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, Trump disse que o acordo seria o primeiro de muitos com outros países, o que mostra alguma ponderação, que não tem sido comum nesta administração.
O pacto com o Reino Unido vai reduzir as tarifas sobre automóveis de luxo e eliminar por completo os 25% sobre o aço e o alumínio britânicos, mas será mantida a taxa básica de 10% sobre os produtos do Reino Unido, comum também aos países europeus.
A medida será aplicada a 100 mil veículos de fabricantes de luxo como Rolls Royce e Jaguar, detalhou Trump.
Em troca, o Reino Unido abrirá os seus mercados à carne bovina e aos produtos agrícolas americanos, apesar das dúvidas dos consumidores sobre a sua qualidade.
"Trata-se de uma redução enorme e importante", declarou Starmer durante uma visita a uma fábrica da Jaguar Land Rover na região central de Midlands (Inglaterra).
Contudo, as fabricantes de automóveis americanas afirmaram que o acordo "prejudica" as empresas que se associaram com o Canadá e o México.
Com o novo acordo, o presidente dos Estados Unidos "revela um desejo cada vez mais desesperado de fazer as tarifas retrocederem antes que afetem o crescimento e a inflação", comentou Paul Ashworth, analista da Capital Economics.
Não obstante, um funcionário do governo britânico comparou o acordo com um "documento de condições gerais" que estabelecerá alguns tratos, mas também uma estrutura dentro da qual novas negociações serão necessárias.
O foco está em setores específicos, e não num acordo de livre comércio completo que o Reino Unido procura desde que saiu da União Europeia (UE) em 2020, disse o funcionário à AFP, que pediu anonimato.
China
Relativamente à China, Donald Trump deu a entender que poderia reduzir as tarifas sobre produtos chineses para 80%, antes das negociações comerciais programadas para este fim de semana entre as duas potências.
As administrações americanas e chinesas vão se reunir na Suíça para a primeira reunião oficial desde que Trump lançou o novo programa alfandegário.
"Tarifas de 80% sobre a China parecem certas!", escreveu Trump na rede Truth Social. Isso significaria uma redução significativa nas tarifas alfandegárias do gigante asiático, que atualmente estão fixadas em 145% e, para alguns produtos, acumularam exorbitantes 245%.
Trump acrescentou que "depende de Scott B.", referindo-se ao Secretário do Tesouro, Scott Bessent, que vai esperar presente nas negocições a representar Washington. A delegação chinesa será liderada pelo vice-primeiro-ministro, He Lifeng.
Nas redes sociais, Trump não especificou se acredita que a tarifa de 80% deve ser a medida final aplicada às importações chinesas quando a guerra comercial terminar, ou se seria uma etapa intermediária.
Noutra publicação, minutos antes, o republicano escreveu em letras maiúsculas que "a China deveria abrir o seu mercado para os Estados Unidos". E acrescentou: "Seria ótimo! Mercados fechados não funcionam mais!".
União Europeia
A UE luta para alcançar o seu próprio acordo comercial com os Estados Unidos.
O secretário de Comércio americano, Howard Lutnick advertiu que Washington vai, "provavelmente", aumentar as tarifas de 10% aos parceiros que exportam mais para os Estados Unidos do que importam, como a União Europeia.
É previsível que a União Europeia esteja marcada na agenda de negociações do presidente norte-americano. Nas redes sociais, Trump mostrou-se entusiasmado por conversar com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e referiu que a União Europeia "tem um enorme interesse em chegar a um acordo. Todos querem chegar a um acordo com os Estados Unidos, estamos a fazer por isso".
Quando questionada sobre os comentários de Trump, a chefe da Comissão Europeia sorriu antes de enfatizar a importância de uma solução negociada. "Se eu for à Casa Branca, quero ter um pacote que possamos discutir. Tem que ser concreto, e quero ter uma solução com a qual ambos possamos concordar. Esse é o trabalho que estamos a fazer agora", acrescentou.
*Com AFP
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