Em declarações aos jornalistas no parlamento, os representantes dos vários partidos expressaram preocupação relativamente ao futuro da empresa, originalmente "Correios, Telégrafos e Telefones", e dos seus trabalhadores, após a administração anunciar um plano de reestruturação que implica a redução de 800 postos de trabalho em três anos.

"A situação laboral é em si mesma um problema, mas coloca outros. Não é possível cumprir o contrato de concessão e integralmente o serviço público cortando de forma massiva nos trabalhadores, aqueles que prestam esse serviço. O PS quer ouvir no parlamento as partes", afirmou o deputado socialista Tiago Brandão Ribeiro.

O parlamentar do PS referiu numerosos "relatos e denúncias" recebidos e garantiu que o seu partido quer "perceber o que está em jogo" e "o impacto e consequências".

"Essa solução estará sempre em cima da mesa. O PS não exclui nenhuma de cima da mesa. O que o PS quer e foi isso que aprovámos no parlamento na semana passada é a avaliação do serviço que é prestado", disse, questionado sobre a possibilidade de reversão da privatização, frisando não se pretender "tomar uma decisão precipitada".

O deputado do BE José Soeiro classificou o processo de privatização conduzido pelo Governo PSD/CDS-PP como "uma tragédia do ponto de vista económico e político", pois "a empresa alienou património, tem muito menos trabalhadores e um grau de incumprimento do serviço público e obrigações a que está obrigada pelo contrato de concessão que já levou a [reguladora] ANACOM a passar multas".

"O projeto agora anunciado agrava e radicaliza o processo de degradação e desmantelamento da empresa. Com menos 800 trabalhadores como é possível cumprirem as obrigações que, hoje, já não cumprem com os trabalhadores que têm?", questionou o bloquista, alertando para o facto de os CTT, "todos os anos", distribuírem "mais dividendos [10 milhões de euros, em 2016] do que o resultado líquido da empresa".

Para José Soeiro, "os CTT devem voltar à esfera pública, devem voltar ao controlo público", havendo "necessidade de resgatar a concessão" e a desculpa de diminuição de tráfego de serviço postal não colhe porque as pessoas recebem menos cartas, mas mais encomendas de comércio eletrónico.

"Os produtos que são comprados pela Internet não vêm pela Internet, vêm pelo correio", declarou também o comunista Bruno Dias, acrescentando que "o que está a acontecer é um ataque e desmantelamento do serviço público postal que é entendido por esta gestão privada dos Correios não como o objetivo principal e razão de ser da empresa, mas como um obstáculo à realização de mais lucros, rendimentos e mais-valias".

Segundo Bruno Dias, "quem está a mais nos CTT não são os trabalhadores", mas antes "estes grupos económicos que se apoderaram daquilo que deve ser de todos".

"É urgente o país arrepiar caminho e assumir do ponto de vista político a necessidade de voltar a ter a empresa na gestão pública e ao serviço do país", disse, relatando casos de cartas ou faturas "com três semanas de atraso quando há 30 anos demorava três dias" ou de distribuição de correspondência somente uma vez por semana em certas regiões.

A deputada de "Os Verdes" Heloísa Apolónia afirmou que "a matéria está muito clara" e não há razão para o PS a querer estudar em vez de "acordar seriamente" e juntar-se à pretensão de "recuar neste processo absolutamente desastroso de privatização".

"Os CTT davam lucro antes de serem privatizados e era uma empresa que funcionava convenientemente. A partir do momento em que foi privatizada os problemas começaram. Agora, temos a ameaça de despedimento de centenas e centenas de trabalhadores", elencou.

A audição parlamentar dos CTT, trabalhadores e administração, bem como do regulador ANACOM deverá, entretanto, ser levada a cabo nas comissões parlamentares de Trabalho e de Economia por iniciativa dos vários partidos, assim como do ministro do Planeamento e Infraestruturas, Pedro Marques.

Na terça-feira os CTT, que empregam 6.700 pessoas, divulgaram um plano de reestruturação que prevê a redução de cerca de 800 postos de trabalho nas operações da empresa ao longo de três anos, devido à queda do tráfego do correio e os trabalhadores da empresa vão fazer greve quinta e na sexta-feira por melhores condições de trabalho e pela manutenção dos empregos.