
Numa audição no Parlamento, o chefe da diplomacia portuguesa fez uma condenação veemente do ataque russo e disse que esta é “a maior crise de segurança por que a Europa passa desde a II Guerra Mundial”.
“Lamento e consternação pelas vidas que já foram perdidas”, manifestou Santos Silva, adiantando que já há informação de “dezenas e dezenas de pessoas que perderam a vida”.
O ministro sublinhou que a ação da Rússia contra a Ucrânia “tem que ser bem caracterizada” e é “uma invasão militar com intuitos de ocupação”, com a “violação ostensiva das regras internacionais e da carta das Nações Unidas”
Este ato de “agressão intolerável, inaceitável para a comunidade internacional” merece por isso a “condenação sem ses, nem mas”, sublinhou Santos Silva, numa sessão da Comissão Permanente do Parlamento para debater o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Na sua intervenção na abertura do debate, o ministro deu ainda atenção ao povo ucraniano, manifestando solidariedade a todos os cidadãos e, “sobretudo, aos mais de 28 mil ucranianos que vivem em Portugal, que não mereciam ver os seus familiares, amigos, vizinhos, a passar por esta barbárie”.
Santos Silva reiterou ainda a disponibilidade de Portugal para acolher familiares e amigos dos cidadãos ucranianos a viver em Portugal e outros refugiados que resultem desta crise na Ucrânia.
O ministro português também exigiu mais uma vez à Rússia que faça recuar as suas tropas e “cesse este ato de agressão”.
Mobilizados meios para retirar cidadãos portugueses por via terrestre
O governo português mobilizou hoje meios para tentar retirar, por via terrestre, os mais de 200 portugueses e luso-ucranianos que ainda estão na Ucrânia, anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros no Parlamento.
“Ontem (quarta-feira) 202 cidadãos portugueses e luso-ucranianos estavam ainda na Ucrânia”, disse Augusto Santos Silva num debate na Comissão Permanente sobre a crise na Ucrânia, alvo de um ataque militar da Rússia iniciado hoje de madrugada.
Uma vez que o espaço aéreo da Ucrânia está vedado, “mobilizámos hoje os nossos meios para apoiar os portugueses e luso-ucranianos para que possam sair por via terrestre”, detalhou o chefe da diplomacia portuguesa.
Esta manhã, a embaixada de Portugal em Kiev tinha já aconselhado os portugueses a sair da Ucrânia através das fronteiras polaca e romena, dando conta de que organizou pontos de reunião nas cidades de Rivne e Khmelnytskyi, na zona ocidental do país.
“Aconselhamos os cidadãos portugueses a que saiam da Ucrânia através das fronteiras terrestres com a União Europeia, preferencialmente na direção da Polónia e da Roménia”, indicou a embaixada no aviso, divulgado na sua página na internet.
A missão diplomática disse que, "em caso de necessidade", os portugueses podiam dirigir-se para dois pontos de concentração que organizou nas cidades de Rivne, no noroeste da Ucrânia, e de Khmelnytskyi, no centro, onde se encontravam funcionários da embaixada.
“Será aconselhável transportar consigo água, alimentação, agasalhos e combustível de reserva caso se desloque em viatura própria. Igualmente deve ter consigo os seus documentos de identificação e viagem”, lê-se no aviso da embaixada, que fornece coordenadas e contactos dos locais (https://kiev.embaixadaportugal.mne.gov.pt/pt/).
Temos de estar preparados para "todos os cenários"
“Temos que estar preparados para todos os cenários. Lamento dizê-lo, mas não posso dizer outra coisa: hoje temos que trabalhar com todos os cenários em cima da mesa porque o que acontece é que a ação de [Vladimir] Putin não apenas excede as suas palavras, a ação de Putin em cada momento está a exceder o máximo que prevíamos como possível nessa mesma ação”, sustentou Augusto Santos Silva.
Na reunião da Comissão Permanente da Assembleia da República, que hoje debate o conflito na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros insistiu na necessidade de trabalhar “ao mesmo tempo em dois pilares”.
“O pilar da nossa própria defesa, que passa pela nossa própria capacidade de dissuasão, e o plano das sanções económicas e financeiras propriamente ditas”, acrescentou.
Santos Silva considerou ainda que “qualquer que seja o objetivo” da ofensiva russa, “ele é ilegítimo, é ilegal e é condenável”.
A Rússia lançou hoje de madrugada uma ofensiva militar em território da Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que as autoridades ucranianas dizem ter provocado dezenas de mortos nas primeiras horas.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que o ataque responde a um “pedido de ajuda das autoridades das repúblicas de Donetsk e Lugansk”, no leste da Ucrânia, cuja independência reconheceu na segunda-feira, e visa a “desmilitarização e desnazificação” do país vizinho.
O ataque foi de imediato condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), União Europeia (UE) e Conselho de Segurança da ONU.
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