Questionada pelos jornalistas sobre as críticas do primeiro-ministro, que no sábado disse ter sido preciso "chegar a tragédia [os incêndios de Pedrógão Grande causaram 64 mortos]" para PSD e CDS acordarem para a floresta, Assunção Cristas respondeu que "o CDS não muda a sua atitude, nem se deixa condicionar por tons de linguagem menos próprios do senhor primeiro-ministro”.
“Nós continuaremos e manteremos a nossa posição de querer esclarecer tudo e exigir responsabilidades, que é coisa que o senhor primeiro-ministro não gosta muitas vezes de assumir, mas ser primeiro-ministro é exatamente isso, é assumir aquilo que tem de assumir", considerou Cristas, que hoje visitou as áreas ardidas dos concelhos de Mação e de Abrantes.
O secretário-geral socialista e primeiro-ministro acusou no sábado os líderes do PSD e do CDS-PP de nada terem feito pela floresta quando estiveram no Governo, lamentando ter sido preciso "chegar a tragédia" para acordarem e entrarem no debate.
"Foi preciso chegar a tragédia para que os outros acordassem e viessem ao debate, não com propostas, mas simplesmente criticando e votando contra grande parte do pacote florestal", afirmou António Costa, em Faro, na ‘rentrée’ política do PS.
A líder do CDS voltou a apontar a questão da descoordenação, tendo afirmado que "este ano não teve piores condições de clima do que nos anos anteriores, não teve mais ignições do que nos anos anteriores e é um ano em que tudo infelizmente correu pior que nos anos anteriores do ponto de vista da área ardida de danos e de vidas afetadas e, portanto, tem de haver explicações por parte do governo".
Assunção Cristas disse que o Governo "tem sido muito rápido nas palavras, mas muito lento nas ações e aquilo que ouvi é a dúvida sobre a chegada dos apoios. Há uma preocupação mais do que justa e legitima em Mação tem a ver com a possibilidade de ter alguma exceção uma vez que aqui temos 75 por cento de área afetada.
“Se queremos recuperar este território tem de haver um apoio significativo e foi este Governo que cancelou um concurso de 300 milhões de euros de apoio à defesa da floresta contra incêndios", acusou.
Em Mação, distrito de Santarém, onde esteve reunida durante cerca de uma hora com os autarcas locais Cristas considerou que é “um exemplo de boa prevenção estrutural em muitas zonas, mas quando não se alia um bom sistema de combate, uma boa coordenação no terreno àquilo que é o trabalho feito previamente ao nível da estruturação da floresta, também os resultados não são visíveis e isso deixa uma marca de grande frustração".
"Estive em Abrantes e agora em Mação, que é o concelho que este ano teve a maior área ardida de todo o país, e de forma até muito frustrante, porque é um concelho exemplar na gestão da sua floresta pelo trabalho feito em conjunto com os proprietários durante muitos anos no terreno", frisou.
"Eu ouvi aqui, como tenho ouvido outros presidentes de câmara, que este ano foi sentido no terreno uma grande falta de coordenação operacional, naturalmente que há ainda muitas questões estruturais para resolver, e o CDS empenhar-se-á como sempre nesta matéria e estará sempre presente para ajudar a melhorar as condições estruturais. Mas não podemos esquecer que este ano em particular houve decisões concretas tomadas no terreno nos teatros de operações de grande descoordenação e levaram a que incêndios que não tinham razão para se tornarem demasiado grandes assim tivessem acontecido", criticou a líder do CDS-PP.
A também ex-ministra da Agricultura lembrou ainda já ter estado em Mação, assim como em Aldeia do Mato, Abrantes, "enquanto ministra, há uns anos”, onde observou “o excelente trabalho que havia sendo feito e o senhor primeiro-ministro às vezes usa tons e linguagens pouco apropriadas. E parece que tem memória curta e é preciso lembrar tudo aquilo que foi feito pelo anterior Governo e talvez por isso tenha deitado abaixo tão bom trabalho que vinha sendo feito. Vale a pena lembrar que o senhor primeiro-ministro, quando foi ministro da Administração Interna acabou com os guardas florestais".
"Esta é uma oportunidade grande para que o Governo reconheça as especificidades de Mação, o trabalho que foi feito e possa alocar verbas de forma significativa também para Mação para que aqui se possam desenvolver projetos exemplares para o país", defendeu.
Vasco Estrela, presidente da Câmara, questionado pela quantificação dos prejuízos causados pelos incêndios de julho e agosto, que devastaram cerca de 75% do território, disse que "os valores que consubstanciaram o pedido de calamidade pública ao governo, no princípio de agosto, foram cerca de 40 milhões de euros, fora este segundo incêndio".
Questionado sobre a visita da líder do CDS-PP, o autarca disse que Assunção Cristas "veio pelo CDS” saber a posição do município sobre este assunto “a exemplo de outros partidos que estiveram cá, e ficou o conforto para junto do governo e da Assembleia da Republica haver pressão no sentido de poder haver um tratamento de exceção que Mação reclama e que nós entendemos que é de todo o direito que venha a ser reconhecido".
Vasco Estrela disse ainda que a visita de terça-feira a Mação do Comissário Europeu Carlos Moedas "será uma visita importante", tendo feito notar que "muitas das decisões" em relação a Mação poderão passar pela Comissão Europeia.
"O facto de o comissário europeu vir ao concelho com maior área ardida, vai permitir ter uma noção do que aconteceu e ter uma noção como a Comissão Europeia pode e deve ajudar Portugal e o interior de Portugal a ser reconstruído", defendeu.
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