Na liderança de um governo reconhecido pela comunidade internacional, Abd Rabbo Mansur Hadi encorajou na segunda-feira os iemenitas a “abrir uma nova página” na história do país.
“Juntemo-nos para acabar com esses grupos criminosos e começar a construir um novo Iémen federal, onde a justiça, a dignidade (…), a estabilidade e o desenvolvimento prevalecerão”, afirmou, num discurso transmitido pela televisão, a partir de Riade.
Este apelo surgiu horas depois de os rebeldes Huthis terem anunciado a morte do ex-presidente iemenita Ali Abdallah Saleh, seu antigo aliado com quem entraram recentemente em conflito, durante combates mortíferos em Sanaa.
A morte de Ali Abdallah Saleh, de 75 anos, dos quais 33 passados no poder, poderá vir a ser um ponto de viragem na guerra civil no Iémen, que já causou mais de 8.650 mortos e cerca de 58.600 feridos desde 2015, segundo a ONU.
Em Sanaa, onde prosseguiam na noite de segunda-feira confrontos entre os rebeldes, os huthis deram a impressão de ter tomado as forças de Saleh, segundo jornalistas no local.
No centro da “pior crise humana do mundo”, segundo a ONU, esta guerra civil aviva as tensões entre a Arábia Saudita sunita e o Irão xiita, acusado por Riade de apoiar militarmente os huthis, algo que Teerão refuta.
“O Ministério do Interior [controlado pelos huthis] anunciou o fim da milícia da traição e a morte do seu chefe [Ali Abdallah Saleh] e de alguns dos seus elementos criminosos”, indicou no domingo a televisão dos huthis, a Al-Massirah, citando um comunicado.
A emissora de rádio huthi tinha anunciado horas antes que Saleh morreu vítima de disparos de combatentes huthis, que o apoiaram nos últimos três anos até à rutura, no passado fim de semana, da aliança que forjaram contra as autoridades de transição.
Saleh anunciou a rutura com os huthis e declarou-se disposto a abrir uma “nova página” com os sauditas, que lideram uma coligação internacional contra os rebeldes no Iémen desde 2015, em troca do levantamento do bloqueio que Riade impõe ao país.
Esse gesto foi qualificado pelos rebeldes huthis como uma “grande traição”.
Na segunda-feira, o Presidente iemenita Abd Rabbo Mansur Hadi, “ordenou ao vice-presidente, Ali Mohsen al-Ahmar, que se encontra em Marib [a cerca de 100 quilómetros de Sanaa] que ativasse a marcha (…) em direção à capital”, segundo um membro da sua equipa.
Batizada de “Sanaa árabe”, a operação consistirá, de acordo com a mesma fonte, em recuperar a capital tomada. De acordo com fontes militares em Marib, sete batalhões receberam ordem para marchar sobre Sanaa.
Para tentar enfraquecer os rebeldes, o governo iemenita anunciou igualmente que vai oferece em breve uma amnistia a todos os que deixem de colaborar com os rebeldes huthis, estendendo a mão aos partidários de Ali Abdallah Saleh.
Saleh, que foi o primeiro Presidente do Iémen após a unificação do norte e do sul, em 1990, mas desde 1978 que estava na Presidência do Iémen do Norte, então designado República Árabe do Iémen, cedeu o poder em 2012, na sequência da “Primavera Árabe”, a Abd Rabbo Mansur Hadi em troca de imunidade para si e para os seus.
Em 2014, no entanto, rodeado de apoiantes descontentes com a transição, aceitou aliar-se à rebelião xiita dos huthis, formada por membros da minoria zaidita, que, considerando-se marginalizada após a insurreição de 2012, lançou uma ofensiva que a levou a conquistar Sanaa, forçando o governo de Mansur Hadi a instalar-se em Aden, segunda cidade do país.
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