No seu testemunho, através de videoconferência, António Duarte confirmou que terá sido sequestrado por Pedro Dias, tendo-o reconhecido da fotografia que viu na televisão, na sequência das notícias relativas aos crimes de Aguiar da Beira.
Ao Tribunal da Guarda contou que foi tratar do jardim de um familiar, por volta do meio dia de 16 de outubro de 2016, quando ouviu gritos que percebeu virem da casa ao lado.
Depois de chamar pela filha da proprietária da casa, Maria Lídia Conceição, e de não ter obtido resposta, decidiu ir ver se a senhora precisava de ajuda.
"Quando puxei a porta, vi o senhor Pedro Dias e ele deitou-me a mão e puxou-me para dentro de casa", descreveu.
De acordo com António Duarte, nesta altura foi ameaçado com uma arma por Pedro Dias, que estava nervoso, mas a quem tentou acalmar e explicar que só tinha ido ver se a senhora precisava de ajuda.
"A dona Lídia não se calava, estava muito nervosa, ele mandava-a calar e eu também. Como não se calava, amarrou-lhe as mãos e foi buscar uma batata que lhe meteu na boca, depois amarrou-lhe os pés e tapou-lhe os olhos também", descreveu.
Antes disso, António Duarte afirmou que Pedro Dias terá repetido a Maria Lídia Conceição "tu não te calas e eu vou ter problemas contigo", enquanto a ameaçava com uma arma.
Referiu ainda que Pedro Dias lhe perguntou se tinha carro e onde o tinha, acabando por explicar-lhe o local onde estava estacionado, com cerca de meio depósito de combustível.
Só depois disso, numa altura em que tinham passado "umas duas horas" é que o arguido o terá prendido.
"Amarrou-me as mãos e os pés e mandou-nos deitar de costas um para o outro em cima da cama. Depois meteu-me uma batata na boca, que disse que tinha lavado e ela até estava húmida, e depois tapou-me os olhos", acrescentou.
Cerca de "três quartos de hora" depois ouviu gente e decidiu arriscar e tentar soltar os tecidos que o amarravam, para pedir socorro.
Ao longo do seu depoimento, António Duarte admitiu "não andar bem da cabeça" depois deste episódio, alegando algumas dificuldades de memória, depois de confrontado com alguns excertos que terá reproduzido à Polícia Judiciária logo a seguir ao sequestro.
Depois de o juiz ter lido algumas expressões que na altura atribuiu a Pedro Dias - "queres morrer com uma arma do exército?" e "agora, se eu quisesse, eram mais dois, matar mais dois ou três é igual" -, António Duarte confirmou, com alguma dificuldade, que terá proferido esse testemunho.
A segunda testemunha da tarde a ser ouvida foi Ana Cristina Laurentino, ex-namorada de Pedro Dias, a quem na manhã dos crimes de Aguiar da Beira pediu ajuda para ir buscar uma outra carrinha.
"Estava muito calmo para aquilo que já vi. Olhei-o na diagonal, mas eu não lhe vi sangue", sublinhou.
Nesta ocasião, Pedro Dias ter-lhe-á ainda pedido para mentir e dizer que tiveram uma "escorregadela" e que tinham "passado a noite juntos", caso alguém perguntasse, o que acabou por fazer com dois militares da GNR.
Segundo esta professora, Pedro Dias "é muito mulherengo" e tanto "era bruto e agressivo como tão depressa pedia desculpa".
Apesar de ter admitido que chegou a ser agredida física e verbalmente pelo arguido, com quem não tinha resolvido alguns problemas de dinheiros e com duas carrinhas, a testemunha afirmou que "o Pedro não mata um animal".
Pedro Dias encontra-se a ser julgado, no Tribunal da Guarda, pela prática de três crimes de homicídio qualificado sob a forma consumada, três crimes de homicídio qualificado sob a forma tentada, três crimes de sequestro, crimes de roubo de automóveis, de armas da GNR e de quantias em dinheiro, bem como de detenção, uso e porte de armas proibidas.
O julgamento prossegue quarta-feira de manhã.
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