Para Rodrigo Prando, sociólogo e professor da Universidade Mackenzie, a renovação no Congresso brasileiro será inferior em 2022 do que em 2018, porque, então, o Brasil era palco de investigações de corrupção, pelo ‘impeachment’ da ex-Presidente Dilma Rousseff e pelo fim do Governo do ex-presidente Michel Temer, que tinha pouca aceitação popular.
“Era o auge da operação Lava Jato e quem encarnou a mudança a tudo isso foi o [Presidente brasileiro, Jair] Bolsonaro, que conseguiu levar muita gente que não tinha experiência política de facto, houve uma maior renovação, o que não significou de nenhuma maneira, uma melhor qualidade do Congresso”, frisou o especialista.
Em 2018, o Congresso brasileiro teve uma taxa de renovação de 47,3%, segundo cálculos da Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados. Em números proporcionais, foi a maior renovação desde a eleição da última Assembleia Constituinte do país, em 1986. Foram eleitos 243 deputados no seu primeiro mandato, 251 deputados foram reeleitos e 19 ex-deputados regressaram à câmara baixa do Congresso brasileiro.
Uma projeção elaborada pelo Instituto Ideia divulgadas pelo jornal ‘O Globo’ previu uma renovação de 34% na Câmara para a próxima legislatura que começará em 2023, com margem de erro de dois pontos.
Em segundo lugar, o analista lembrou que o dinheiro do fundo partidário, instituído quando os partidos foram proibidos de receberem verbas de empresas nas campanhas eleitorais, que foi destinado aos parlamentares com mandato em exercício foi muito maior do que o dinheiro destinado aos candidatos novos.
“Em terceiro há o orçamento secreto, como emendas de relator e recursos para os políticos, especialmente do centrão, que formam um conjunto de partidos que dão as cartas no Governo Bolsonaro”, acrescentou Prando referindo-se a parte do orçamento público do Executivo brasileiro que tem sido executada sem nenhuma transparência para atender interesses de parlamentares em troca de apoio ao Governo nas votações do Congresso.
Rosemary Segurado, socióloga e docente na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), concorda que os deputados da base de apoio do atual Governo foram os grandes beneficiários dos recursos destinados às campanhas políticas e tendem a ser reeleitos, mas espera uma pequeno crescimento das esquerdas no legislativo.
“Dependendo do tamanho da bancada deles [partidos de centro] e da configuração de como é que vai ser esta bancada acho que o próximo Congresso tende a ser mais conservador”, frisou a professora.
Para o Senado brasileiro, que mudará um terço de seus membros, ou seja, 27 membros serão eleitos ou reeleitos, Rosemary Segurando considera que os candidatos mais progressistas terão resultados melhores.
“Algumas sondagens indicam que alguns desses candidatos do bloco progressista terão uma performance melhor do que em 2018 (…) Provavelmente, se seguirmos nessa tendência, teremos um resultado mais favorável para esse campo [da esquerda], mais progressista”, frisou a professora da PUC-SP.
Prando também avaliou que há nestas eleições um cenário polarizado por dois candidatos à Presidência, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Bolsonaro, que estão a ser evocados por muitos candidatos ao Congresso que querem colocar suas imagem a deles para ganharem eleitores.
“O que não significa que se tenha que dispensar a negociação política e a retomada do chamado presidencialismo de coligação”, argumentou o sociólogo, acrescentando que o Executivo precisará sempre dos deputados para governar e, portanto, o Congresso manterá influência e o poder no país.
As eleições no Brasil têm a primeira volta marcada para 02 de outubro e a segunda, caso seja necessária, para 30 de outubro.
Além da renovação parcial do Senado, da renovação total da Câmara dos Deputados e das assembleias legislativas estaduais, os brasileiros escolherão o próximos Presidente e vice-presidente, e governadores dos 27 estados do país.
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