Uma nova investigação da AI concluiu que a campanha das Forças Armadas de Israel (IDF) para “expandir significativamente uma ‘zona tampão’ ao longo do perímetro oriental da Faixa de Gaza ocupada deve ser investigada como crime de guerra de destruição gratuita e de punição coletiva’.
“Utilizando bulldozers e explosivos colocados manualmente, os militares israelitas destruíram ilegalmente terrenos agrícolas e edifícios civis, arrasando bairros inteiros, incluindo casas, escolas e mesquitas”, sublinhou a organização não-governamental (ONG), em comunicado.
O atual conflito em Gaza foi desencadeado com um ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas em 07 de outubro a Israel, onde deixou cerca de 1.200 mortos e levou perto de 250 reféns.
Em resposta, Israel lançou uma grande ofensiva aérea e terrestre na Faixa de Gaza, que fez mais de 40 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, na maioria mulheres e menores, provocou um desastre humanitário e desestabilizou todo o Médio Oriente.
O Crisis Evidence Lab da AI analisou imagens de satélite e vídeos publicados por soldados israelitas nas redes sociais entre outubro de 2023 e maio de 2024, que permitiu “identificar terrenos recentemente limpos ao longo da fronteira oriental de Gaza, com uma largura que varia entre aproximadamente 1 quilómetro (km) e 1,8 km".
“A nossa investigação mostrou como as forças israelitas obliteraram edifícios residenciais, forçaram milhares de famílias a abandonar as suas casas e tornaram as suas terras inabitáveis”, frisou Erica Guevara-Rosas, diretora sénior da AI para a Investigação, Advocacia, Políticas e Campanhas.
Erica Guevara-Rosas realçou também que a análise revela “um padrão ao longo do perímetro oriental de Gaza que é consistente com a destruição sistemática de uma área inteira”.
“Estas casas não foram destruídas em resultado de combates intensos. Pelo contrário, os militares israelitas arrasaram deliberadamente os terrenos depois de terem tomado o controlo da área”, apontou.
A diretora da AI sublinhou ainda que a criação de qualquer ‘zona tampão’ não deve equivaler “a uma punição coletiva dos civis palestinianos que viviam nestes bairros”, instando as autoridades israelitas a respeitarem as suas obrigações ao abrigo do direito internacional.
De acordo com a análise da AI, que apresentou no comunicado imagens de satélite de vários locais afetados, a ‘zona tampão’ alargada ao longo do perímetro com Israel abrange "aproximadamente 58 quilómetros quadrados (km²), o que equivale a cerca de 16% de toda a Faixa de Gaza ocupada".
“Em maio de 2024, mais de 90% dos edifícios nesta zona (mais de 3500 estruturas) parecem estar destruídos ou gravemente danificados; e mais de 20 km² ou 59% dos terrenos agrícolas nesta zona apresentam um declínio na saúde e na densidade das culturas devido ao conflito em curso”, apontou a organização sobre a sua investigação, que conta também com testemunhos de habitantes na Faixa de Gaza.
Numa das localidades analisadas, Khuza’a, na província de Khan Younis, no sul de Gaza, que albergava cerca de 11.000 palestinianos, nas sete semanas que se seguiram a 07 de outubro de 2023, as imagens de satélite mostram que cerca de 178 estruturas dentro e à volta da cidade foram destruídas ou gravemente danificadas — muitas delas por ataques aéreos, detalhou a AI.
“No entanto, a destruição mais significativa começou quando as forças terrestres israelitas entraram na cidade em maior escala, no final de dezembro de 2023. Mais de 850 estruturas foram destruídas ou gravemente danificadas entre 26 de novembro de 2023 e 07 de janeiro de 2024, segundo a UNOSAT”, acrescentou.
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