Em comunicado enviado à agência Lusa, a AI considerou o vídeo, filmado na província de Cabo Delgado, mais uma prova da violação dos direitos humanos que a organização denunciou na semana passada.
“Este vídeo horrendo é mais um exemplo das graves violações dos direitos humanos e execuções impiedosas que acontecem em Cabo Delgado pelas forças de segurança moçambicanas”, disse o diretor da AI para a África Oriental e África Austral, Deprose Muchena.
O vídeo mostra uma mulher na Estrada R698 a ser abordada por elementos das Forças Armadas de Defesa de Moçambique. Depois de a agredirem com um pau, quatro homens alvejaram o seu corpo despido por 36 vezes com metralhadoras e outras armas automáticas.
Uma fonte militar local, que falou com os investigadores da AI, forneceu uma justificação “bizarra”, dizendo que a mulher enfeitiçou o exército moçambicano e “recusou revelar o esconderijo dos insurgentes” da Al-Shabab.
No vídeo, de acordo com a descrição da AI, é percetível que todos os soldados falam português e referem-se à mulher como “Al-Shabab”, um grupo armado ‘jihadista’ acusado de causar instabilidade na região desde outubro de 2017.
“As forças armadas não podem gozar de total liberdade para cometer crimes à luz das leis internacionais e violações de direitos humanos, incluindo matar civis em nome do combate aos grupos armados. As autoridades de Moçambique devem investigar estes recentes crimes chocantes e garantir que todos os suspeitos são levados à justiça em julgamentos justos perante tribunais civis comuns”, disse a organização não-governamental.
O vídeo começou a circular nas redes sociais em 14 de setembro, mas foi partilhado entre telemóveis privados uma semana antes, no dia em que terá sido filmado, segundo a AI, o que coincide com a data de uma “mega operação” do Governo para expulsar os insurgentes de Awasse e Diaca, corroborando a presença de militares das Forças Armadas moçambicanas naquelas cidades nesse momento.
Em 09 de setembro a AI denunciou suspeitas de tortura e outras violações de direitos humanos cometidos pelas forças de segurança moçambicanas em Cabo Delgado, no norte do país.
Em causa estavam vídeos e fotos que, segundo a AI, “mostram tentativas de decapitação, tortura e outros maus-tratos de detidos, o desmembramento de alegados combatentes da oposição, possíveis execuções extrajudiciais e o transporte de um grande número de cadáveres até valas comuns”.
Cabo Delgado enfrenta desde há três anos ataques de grupos armados que já fizeram mais e mil mortos e 250.000 deslocados internos.
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