"Não temos memória de uma mortandade tão grande. Não tem havido mortandades tão grandes de peixe, porque no troço de Vila Velha de Ródão já não há peixe, os próprios pescadores há muitos anos que deixaram de pescar nessa zona, só a montante de Vila Velha de Ródão", afirmou à agência Lusa Samuel Infante, da Quercus.
Para o ambientalista, a única justificação para a recente mortandade de milhares de peixes no rio Tejo, junto a Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco, prende-se, provavelmente, com uma concentração de várias descargas poluentes e com a diminuição do caudal do rio.
"Muitos peixes que vivem nos pequenos afluentes, com a diminuição do caudal, foram obrigados a ir para o Tejo e a descer desses pequenos afluentes. É a única explicação que temos, porque grande parte deste troço [junto a Vila Velha de Ródão] já não tem sequer lagostins. O troço do rio está praticamente morto", explicou.
Adiantou ainda que a foz da ribeira de Nisa, um local muito conhecido para a reprodução de bogas e de outras espécies, foi dos mais afetados.
"Provavelmente, foram todos esses fatores que levaram que desta vez aparecesse uma quantidade tão grande e significativa de peixes mortos", frisou.
Samuel Infante lamenta que apesar das grandes manifestações que já se realizaram contra a poluição no rio Tejo e, apesar das promessas políticas do próprio ministro do Ambiente, a situação não se resolve.
"Infelizmente, é uma situação que não se resolve. A verdade é que continuamos com esses problemas para resolver. Aliás, a Celtejo tem uma licença que não consegue cumprir. A própria empresa já reconheceu ao Ministério do Ambiente que está em incumprimento. Se está em incumprimento tem que arranjar alternativa, não pode descarregar no meio hídrico e provocar estas mortandades e estar a destruir um património que é de todos", afirmou.
O ambientalista diz que estão identificados os infratores e que é preciso agir.
"Estão a decorrer vários processos de crime ambiental no Ministério Público (MP). É preciso de uma vez por todas que o MP realmente agarre. Há autos que são levantados, mas o rio é que continua a sofrer, as populações que dependem do rio, os pescadores, os operadores turísticos, o ecossistema em si, toda a atividade económica que está no rio continua a sofrer no dia-a-dia", disse.
O responsável da Quercus entende que é preciso parar de uma vez por todas com este tipo de situações e que é preciso que as autoridades responsáveis sejam consequentes.
"Estão identificadas as fontes de poluição, então é preciso passar à ação, retirar as licenças porque o rio continua a sofrer. Quem continuar a cometer crimes ambientais, que seja punido. Porque dizer que se vai construir uma ETAR e estamos meses e meses e a ETAR não entra em funcionamento e continuam a fazer-se descargas ilegais para o rio, tem que ter consequências. Estamos a falar da ETAR da Celtejo e de outras indústrias que estão identificadas", explica.
Samuel Infante realça que se a ETAR não entra em funcionamento, que se faça cumprir a lei: "Que se retire as licenças de descarga no meio hídrico. Há outras soluções. Se não se estão a cumprir os parâmetros tem que se arranjar alternativas".
Já Eduardo Ribeiro, pescador que reside em Arneiro, no concelho vizinho de Nisa, disse à agência Lusa que a mortandade de peixes é cíclica.
"A água fica envenenada e o peixe, com falta de oxigénio, morre. Os espanhóis mandam uma descarga forte [de água] e fica bom. Toda a gente vê isto e ninguém quer saber", desabafa.
Este pescador, de 52 anos, considera aquilo que se passa no rio Tejo "uma vergonha" e adianta que só se consegue pescar a montante de Vila Velha de Ródão.
"Se de Vila Velha de Ródão para cima não há fábricas e há peixe, só pode ser das fábricas", sustenta.
Eduardo Ribeiro, que faz parte de uma das sete famílias de Arneiro que ainda vivem da pesca no rio Tejo deixa uma questão: "Gostava de saber o que é que o nosso ministro do Ambiente está cá a fazer".
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