Numa carta enviada ao bastonário da Ordem dos Médicos, o administrador Carlos Martins e a diretora clínica Margarida Lucas manifestam a sua “surpresa” por saberem da decisão do impedimento da formação de internos na especialidade de otorrinolaringologia através do Diário de Notícias (DN).
A Ordem dos Médicos decidiu que o Hospital Santa Maria, em Lisboa, fica impedido de formar internos na especialidade de otorrinolaringologia, segundo confirmou à Lusa o presidente do colégio de especialidade.
Artur Condé disse que, “até nova avaliação”, está suspensa a idoneidade para formar novos internos de otorrino no Santa Maria, por não estarem reunidas as condições exigíveis.
A documentação sobre esta decisão foi solicitada pelo CHLN que considera grave “a suspensão da capacidade formativa para o ano de 2019, num dos pilares de formação médica, de investigação de excelência e de prestação de cuidados de referência do SNS”, segundo a missiva.
O CHLN recorda que a secção regional do sul da Ordem dos Médicos remeteu, no passado dia 20 de abril, uma cópia do Relatório de Audição, anexado na carta dirigida a Miguel Guimarães, “o qual não pronunciava uma decisão” como a que o bastonário terá tomado.
De acordo com esse relatório da audição ao serviço de otorrinolaringologia (ORL) do CHLN pelo conselho regional sul e colégio da especialidade de ORL da Ordem dos Médicos, “as opiniões dos internos parecem, no seu conjunto, ir no sentido da manutenção da qualidade formativa”.
No decorrer da audição foi, contudo, evidenciado um “conflito interno”.
A Ordem dos Médicos sugeriu, nesse documento, que “enquanto não houver capacidade para aumentar os tempos de bloco, a capacidade de ORL na região de Lisboa deverá ser ponderada”.
“É importante que cesse o ambiente de conflito existente entre os especialistas do serviço. Um ambiente de colaboração entre todos é um caldo de cultura médica favorável à formação”, prossegue o relatório.
Em julho do ano passado, o bastonário da Ordem dos Médicos tinha realizado uma visita ao serviço de otorrinolaringologia do hospital, concluindo que os internos estavam a dar consultas sozinhos, incluindo os que estavam no início do internato.
“Os internos têm consultas em nome deles que aparentemente asseguram sozinhos desde que entram em otorrinolaringologia", afirmou na altura o bastonário Miguel Guimarães à agência Lusa.
O serviço de ORL do Santa Maria (CHLN) tem estado envolvido em polémica desde que, em 2016, foi nomeado Leonel Luís como diretor de serviço.
Em finais do ano passado, o Sindicato dos Médicos da Zona Sul apresentou uma denúncia no Ministério Público e autoridades de saúde contra o diretor do serviço de otorrinolaringologia, que acusa de irregularidades e perseguição.
Já este ano, o diretor do serviço entregou no Ministério Público uma queixa crime por difamação e denúncia caluniosa contra a direção do Sindicato dos Médicos da Zona Sul e contra cinco colegas otorrinolaringologistas.
Na queixa, a que a agência Lusa teve acesso, o diretor do serviço, Leonel Luís, considera que a direção do Sindicato dos Médicos da Zona Sul divulgou vários comunicados que “representam um atentado” ao seu bom nome, à sua honra e à sua imagem e credibilidade.
Em causa está o que o médico considera ser uma campanha difamatória do sindicato, que considerou ilícita a sua nomeação e deu a entender que o diretor do serviço foi nomeado “por ajuste direto”, sem ter qualificações suficientes e aludindo a “mecanismos clientelares e comissariado político” nalgumas situações no serviço de otorrino.
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