"Ajudar Lula é ajudar o povo. Vamos resistir com ele", diz Nagela Royani, uma jovem do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), de 25 anos, deitada num colchão diante da sede sindical.
Protegido por centenas de apoiantes que fazem um cordão de segurança ao seu redor, o líder de esquerda, de 72 anos, está no segundo andar do prédio desde que o juiz Sérgio Moro, figura central do caso Lava Jato, emitiu, na quinta-feira, uma ordem de prisão de 12 anos e um mês por corrupção. Lula ignorou o prazo para se entregar às autoridades. O que acontecerá em seguida é, para já, uma incógnita.
Onde Lula está podem entrar apenas lideranças políticas, os seus advogados, alguns representantes de movimentos sociais, familiares, ou os que conseguem convencer os vigilantes, depois de esperarem numa longa fila e, assim, se a sorte estiver a favor, conseguem uma "selfie" com o ex-presidente.
A imprensa, recebida com reservas neste "bunker", onde quase todos a culpam parcialmente por esta situação "injusta", tem de se contentar com as aparições esporádicas de Lula através da janela.
O silêncio mantido pelo presidente mais popular da história do Brasil e favorito para as eleições presidenciais de outubro contrasta com o som do funk e com os discursos que saem a toda hora do carro de som estacionado à porta do sindicato.
Preparar para a vigília
Militantes de esquerda, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e estudantes de todas as partes do Brasil entram e saem sem restrições deste prédio de vidro, quase sem móveis e repleto de cartazes que dizem "Não à prisão de Lula".
Sentado no chão do "hall" e usando uma mochila como almofada, Flavio Bento, um estudante de História de 25 anos, tenta recompor-se da viagem de mais de sete horas que fez do Rio de Janeiro num autocarro da União das Juventudes Socialistas.
Na sua mochila tem apenas algumas camisolas, um agasalho e bandeiras que usará como colchão. Outros trouxeram "leite de magnésia" para se protegerem de eventuais bombas de gás lacrimogéneo da polícia.
"É preciso estar sempre preparado. Vivemos num estado de exceção, no qual a Constituição foi rasgada. Sempre dizemos: não temos medo de morrer, a revolução deve seguir", afirma este jovem, o primeiro na sua família a chegar à universidade, graças aos programas que Lula criou.
Indignadas mas mais tranquilas estavam as mulheres do grupo de Clara Piñol, uma reformada de 64 anos que discutia a situação de Lula no terceiro andar do sindicato.
"Este local aqui é como se fosse meu. Muitos jovens dormem no palco de madeira, mas se fizer isto não levanto mais. Assim não durmo, mas quero ficar aqui", disse Piñol.
Apesar da preocupação com uma eventual incursão policial para deter Lula, uma roda de samba começa e pode ser ouvida até no restaurante à pinha do quarto e último andar do Sindicato.
Ulisses de Castro, operário de uma fábrica de automóveis, de 50 anos, dança animadamente com dois companheiros.
"É uma maneira do sindicato levar alegria ao povo. Aqui há gente que está muito tempo sem descansar, sem comer, sem asseio (...), estamos muito preocupados e momentos como este nos ajudam a ficar mais unidos", afirmou.
Como um bálsamo, de fundo, o estribilho de um famoso samba diz: "Tristeza, por favor vá embora".
Por Carola Solé / AFP
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